Tá na internet: é hora de dizer não (Por Luis Miguel Felipe)


Passou-se pouco mais de meio ano, mas o registro do governo Bolsonaro impressiona. A destruição do país avança de forma acelerada.

Estamos perdendo direitos e perdendo soberania. O arbítrio do Estado se amplia e se naturaliza. Não há política de combate às desigualdades que não esteja sob risco.

Sem nenhum tipo de discussão, empresas públicas que foram construídas ao longo de décadas estão sendo alienadas a preço de banana. Outro tipo de patrimônio do povo brasileiro também está ameaçado: da Fiocruz ao INPE, do IBGE à Anvisa, do Itamarati às universidades, os centros de reflexão e de pesquisa estão sob cerco dos novos donos do poder.


Desmatamento. Agrotóxicos. Aposentadoria. Segurança no trabalho. Paz no trânsito. Laicidade. Acesso a medicamentos. Liberdade de expressão artística. Liberdade de imprensa. Demarcação de terras indígenas. Proteção ao trabalho. Gestão republicana do Estado. Apoio à pesquisa. Autonomia universitária. Educação sexual. Política de drogas. A lista de áreas em que o retrocesso ocorre parece não terminar.

O projeto de Brasil, que está sendo implementado sem nenhum pudor, é o de um país mais autoritário, mais violento, mais submisso, mais burro e mais desigual.

Uma grande parte da direita brasileira parece disposta a aceitar tudo - golden shower, pulseira de nióbio, chocolatinhos, milicianos no poder, filhote embaixador - em troca da realização de seu programa de privatização, desnacionalização, redução do gasto social e ampliação da vulnerabilidade do trabalho. Comprova, com isso, seu desapreço pela democracia, seu desamor pelo Brasil e seu desprezo pelo povo.

É vão esperar por uma "frente ampla" com ela porque sua oposição ao bolsonarismo é seletiva e porque com ele coincide no eixo central do projeto que animou o golpe de 2016 e, em sua esteira, o triunfo do ex-capitão: impedir que o campo popular seja reconhecido como interlocutor legítimo do jogo político.

Do nosso lado, é hora de entender que não existe espaço de negociação com o atual governo, porque não existe um único interesse ou valor em comum que sirva de base para o diálogo. O que eles buscam é, sempre, o exato oposto daquilo que aspiramos.

Vou falar do MEC, que me toca mais de perto.

Será que é possível chegar agosto e recomeçarmos as aulas, nas escolas e universidades de todo o país, em toda a normalidade?

Tendo no ministério um sujeito desqualificado, carente de preparo técnico, de capacidade intelectual e de estatura moral, que trabalha ativamente pela destruição da educação do país?

Alguém que busca reduzir o financiamento da educação pública, cujo principal projeto apresentado é um plano de destruição das universidades, que tem ódio ao conhecimento e que ocupa suas muitas horas de ócio com ofensas contra estudantes e professores?

Não é normal que alguém como Weintraub seja ministro da Educação. Em qualquer país do mundo, ele já teria sido demitido, pois mesmo a um governo de direita não interessaria sua absoluta incapacidade de diálogo com o setor.

Ao manter Weintraub, Bolsonaro está simplesmente deixando pública sua declaração de guerra à educação brasileira. Justamente por isso, cabe a nós dizer não - e exigir a imediata demissão do ministro.

As grandes manifestações do semestre passado mostraram que a educação pode ser o estopim da resistência. Mas mostraram também uma dificuldade de ação continuada que é comum ao campo popular e democrático na atual quadra da vida brasileira.

É imperativo superar isso para levar o enfrentamento ao MEC a um patamar superior. Está muita coisa em jogo: nossos espaços de trabalho, nossa liberdade, nosso futuro, nosso país.

Por Luis Miguel Felipe.

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