O discurso que faltou na Câmara


Meus senhores e senhoras deputados. Nós estamos aqui para julgar o afastamento da Presidenta da Republica Dilma Rousseff. Sim, é disso que se trata este momento. Eu já ouvi alguns dos meus pares se pronunciarem anteriormente e afirmarem que devemos ouvir as vozes das ruas. É verdade, devemos mesmo ouvi-las neste momento. Mas que vozes são essas que alguns falaram aqui?
Quem as escutou deve saber do que está falando. Eu, como muitos sabem, tenho problema de audição, pois só ouvi parte delas com o ouvido direito, com o esquerdo ouço gritos de outra maneira. Mas meus amigos e amigas, eu não quero me estender muito, pois o tempo que tenho é pouco para falar dos crimes imputados a Presidenta por vocês, prefiro não entrar na questão pois já tenho voto formado. O que eu quero é falar do presidente desta casa legislativa, do magnifico Eduardo Cunha. Homem honrado, que sobre ele não pesa nenhuma acusação. Isto mesmo, quero falar de suas qualidades de estrategista. E para isto, eu preciso da atenção de vocês. Olhemos todos para ele. Ele sentado naquela cadeira no alto, é a mostra do seu poder nessa casa, e consequentemente neste país. O Eduardo, me permita o chamar assim, nobre presidente, é cantado em verso e prosa por suas excelências como aquele que irá banir da nação a corrupção. E nós devemos acreditar nisto! Pois ele, este bravo e honesto homem, é acusado injustamente em dezenas de processos. Mas como todos sabemos, até o momento não foi importunado pela justiça do nosso Brasil. Nesta casa, mais uma vez, todos vocês sabem, o acusam, e eu afirmo, injustamente, de cometer crimes. Criaram até uma Comissão Parlamentar de Inquérito. Tudo isto para constranger a ele, que nada fez de errado. Isto, nobres e honestos deputados que o seguem, para constranger essa figura proba. Mas, nós sabemos, que o Vosso Eduardo irá conseguir sair também dessa. O Eduardo sabe como ninguém as vielas desta casa. Ele já mostrou como ninguém como usar o regimento interno e desmoralizar os seus acusadores. Demos todos vivas ao Eduardo amigos do Eduardo! Longa vida ao mais honesto entre nós! Gritem e saldem esse homem que deixou a nação de calças curtas e demonstrou a todos, inclusive a justiça, que tem todos nas mãos. Gritem, façamos festas nas ruas, batam panelas, pisquem as luzes, o Eduardo venceu a Nossa presidenta. Ela sim, cometeu verdadeiros crimes neste país e merece ser julgada por todos nós como criminosa que é. Essa mulher que deu a oportunidade a outras milhões de terem uma casa própria. Que autorizou a abertura de várias universidades pelo país. Que cometeu o crime de não paralisar a transposição do Velho Chico, levando água para quem precisa. Por isso ela deve ser condenada. Deputadas e deputados, Senhor Presidente, são por estes e outros crimes que a Presidenta deve ser julgada pela história. Já que neste dia, a maioria a condena perder o mandato, sem que prova nenhuma de crime de responsabilidade recaia sobre ela. E o inocenta de todos os crimes que lhe são imputados. Pois Senhor Presidente, eu peço desculpas ao senhor e aqueles que o defendem neste momento, mas vou discordar da maioria, pois sempre fui um rebelde, e quero declarar meu voto contra o Golpe que se dá neste momento contra a Presidenta Dilma.

Dimas Roque.

Esse texto foi publicado no dia 18 de abril de 2016 e hoje me peguei lembrando dele. Está mais atual que nunca. Foi por achar que a justiça seria feita que o Golpe aconteceu, por achar que seria reconduzida ao cargo pela justiça que Temer tomou posse e de lá só saiu ao fim do sem mandato. É por acharmos que a justiça brasileira irá funcionar corretamente que estamos neste caos institucional e perigando a uma ditadura pior que a de 1964.

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