O homem comum é o herói do cotidiano. Cumpre prazos, paga boletos, lembra do aniversário da sogra. Vive num equilíbrio quase budista entre o que esperam dele e o que ele espera da vida. Não grita, não sonha alto demais, não se arrisca a sair do trilho. Ele é, por definição, perfeito: encaixa-se com precisão nas engrenagens da sociedade.
Já o gênio...O gênio é um problema! Gênios falam sozinhos, andam distraídos, esquecem datas importantes, fazem perguntas que ninguém sabem responder. Eles enxergam o mundo como um rascunho mal feito, pronto para ser redesenhado. O gênio não aceita o relógio - quer reinventar o tempo. Não respeita as regras, quer reescrever as leis. São feitos de defeitos. Sim, porque onde o homem comum vê limites, o gênio vê falhas. E onde há falhas, ele não descansa até tentar conserta-las. E nisso, quebra regras, ofende, fica puto, deixa rastros de caos por onde passa.
Caetano Veloso não sabia onde tinha deixado as meias. Pelé dormia com a roupa do treino, Drumond era insuportável nos jantares. Jorge Amado escrevia como quem delirava. Todos eles: geniais, imperfeitos, profundamente humanos - e por isso mesmo, deslocados do mundo.
Mas veja, não é que os homens comuns sejam menores. São, de fato, os que seguram as pontas quando o teto ameaça cair. São os que recolhe os cacos depois da tempestade. Eles não inventam roda, mas garantem que ela continue girando.
O mundo precisa dos perfeitos para não desmoronar. Mas precisa dos defeituosos para mudar de forma. Talvez a perfeição seja mesmo essa: um pouco de estabilidade com uma dose controlada de loucura. Um mundo só de gênios, seria insuportável. Mas entre a rotina e o caos, entre a Linha reta e o risco torto, a humanidade resiste.
No fim das contas, talvez seja isso que nos torna tão fascinantes: essa eterna dança entre o senso e o absurdo. Entre a ordem e o salto no escuro. Entre os homens comuns - perfeitos - e os gênios - gloriosamente defeituosos.
Por: Jorge Papapá.
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