”Insatisfação com Judiciário aumentará se Lula for barrado, diz Rui Costa”

O governador da Bahia, Rui Costa (PT), defendeu, em entrevista à Folha, a candidatura de Lula à Presidência em 2018. Para Costa, a condenação do petista pelo TRF-4, em janeiro, representa perseguição política. "Hoje vivemos uma absoluta instabilidade jurídica e institucional", diz.
Folha - O senhor acredita que Lula será candidato?
Rui Costa - Se ocorrer um debate sobre substituição, será pelo extremo da perseguição durante a campanha. O registro eleitoral pode ser solicitado até o dia 15 de agosto. Só a partir daí a candidatura irá a julgamento no TSE. Nesse momento a campanha já estará em andamento. Portanto, na minha opinião, Lula será candidato e será julgado ao longo ou após a campanha. Seria importante para a repactuação democrática do Brasil que ele pudesse concorrer, independentemente de quem vota ou não nele.

- Como o senhor enxerga o cenário político neste ano?
- Devemos unir nosso país. Fazer com que os opostos se sentem a uma mesa com racionalidade para o debate político. Essa racionalidade levaria a uma normalidade institucional, a fazer projetos de Estado, e não de governos. Hoje vivemos uma absoluta instabilidade jurídica e institucional, o que se reflete na demora para a retomada da economia brasileira.

- Qual sua opinião sobre a condenação de Lula?
- Em nenhum país desenvolvido ele teria sido condenado. Não há prova, mensagem de celular, bilhete, registro de cartório. Ele nem sequer dormiu uma noite no apartamento. O juiz o condenou dizendo que estava convencido de que ele aceitaria o apartamento. O que estão fazendo é uma perseguição histórica. Algo semelhante só ocorreu com Getúlio Vargas. Isso vai ficar mais claro na campanha. Na medida em que se impeça o Lula, vai aumentar a insatisfação da população com esse sistema, que é seletivo, e com o Judiciário. Está cada vez mais expressa a militância político-partidária daqueles que não deveriam ter preferência nem militância na política, como os procuradores e juízes.

- Fernando Haddad e Jaques Wagner já foram citados como possíveis substitutos de Lula em uma candidatura à Presidência. Há nomes no partido com força suficiente para assumir essa candidatura?
- Há sim. E o nome não precisa ser do PT. Pode ser uma pessoa que tenha a mesma concepção de distribuição de renda e desenvolvimento.

- O senhor poderia citar algum nome como exemplo?
- Não, prefiro não dar nenhum nome.

- O senhor acredita na união de partidos da esquerda nesta eleição?
- Espero que consigamos unir as pessoas em torno da apresentação de um projeto para o Brasil, muito além da esquerda. Precisamos de estabilidade a longo prazo, firmada e pactuada em valores republicanos.

- Apesar de o PT ter sido abalado pelos escândalos de corrupção, na Bahia o senhor ainda tem uma aprovação de mais de 60%. Teme que a rejeição ao partido influencie o resultado da eleição para governador?
- Uma parcela do povo brasileiro nunca foi muito ligada à legenda partidária. O cidadão se identifica com pessoas e projetos. O que tem garantido a legitimidade de governadores é a execução de projetos de desenvolvimento que garantem inclusão social em seus Estados. Na Bahia, nossa aprovação é alta em função disso. Eu não governo para o PT, mas para os baianos.

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