Distante dos grandes centros e das grandes celebrações, os sertanejos
baianos mantêm viva a tradição religiosa e cultural do Terno de Reis em
comunidades rurais do interior. É na sabedoria e na sensibilidade do povo do
campo que a prática passa de geração a geração. Para preservar a memória dessas
pessoas de fé e de festa, a websérie 'Reiseiros, vida de sorte e saúde' conta a
história de 10 folias de Reis no sertão da Bahia, sob o olhar dos reiseiros
mais experientes de cada terno. Lançada no último dia 2, a série possui 10
capítulos. Os novos episódios são lançados toda sexta-feira, no site e também nas redes sociais do projeto.
Nesta sexta-feira (9), Silvano, que dá nome ao
segundo episódio da série, é quem conta a história do Terno de Reis de Malhada
de Maniaçu, na zona rural de Caetité. Para quem perdeu o primeiro capítulo, o
vídeo está disponível no site. Na estreia da websérie, Juarez, do Terno de Reis do Riacho da Vaca,
também em Caetité, fala sobre a tradição que aprendeu quando menino. “Estamos
aqui para honrar a tradição velha, que tem mais de 150 anos. O 'Reis' é dom de
Deus, é uma família, não tem gente estranha aqui neste terno. É uma família
compartilhando a cultura. Cultura ninguém ensina, a gente vê e a gente
aprende”, afirma Juarez.
Com patrocínio da Companhia de Eletricidade da
Bahia (Coelba) e do Governo do Estado, por meio do Programa de Incentivo ao
Patrocínio Cultural (Fazcultura), além da websérie, o projeto - denominado
'Trilha de Reis' - será transformado em um documentário de longa-metragem e um
livro, com lançamento previsto para setembro deste ano.
Resultado de uma pesquisa iniciada em 2010,
ternos da zona rural de quatro municípios do Alto Sertão Baiano (Caetité,
Guanambi, Igaporã e Pindaí) foram registrados durante o período do Reisado, que
acontece tradicionalmente na primeira semana de janeiro.
Para uma das idealizadoras do projeto e diretora
do documentário, Sabrina Alves, o apoio do Estado foi fundamental para a
produção. “A presença do Fazcultura faz com que a gente consiga realizar
projetos como esse, que são importantíssimos para a manutenção da nossa
cultura, da cultura tradicional, muitas vezes esquecida e fora do eixo da
capital. As manifestações do interior são de uma riqueza profunda. Através do
Fazcultura, a gente consegue dar visibilidade a isso”, explica Sabrina.
Tradição singular
Segundo um dos idealizadores e produtor-executivo
do projeto, Cristiano Britto, o modo único como cada uma das celebrações é
feita desperta a atenção até mesmo de quem já acompanha a Folia de Reis. “Um
dos diferenciais desses ternos é que, apesar da manutenção da tradição
religiosa católica muito forte, a musicalidade mostra uma influência muito
grande da cultura africana".
Britto acrescenta que "os instrumentos de
percussão, como a zabumba, têm muita influência para eles, e são acompanhados
como melodia por gaitas, vozes e flautas de PVC. Isso torna o ritmo muito
marcante. Para quem gosta de tradições e conhece o Terno de Reis, 'Reiseiros'
vai surpreender com as novidades. É algo singular”.
Foto: Elói Corrêa/GOVBA.
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