Prezada
amiga, prezado amigo,
Proponho-lhe
uma parada, rápida que seja, em nosso diálogo em torno da tragédia política
brasileira, para um contato com um texto mais leve, mais literário, mas
que, todavia, continua a reflexão nossa sobre a sociedade brasileira, seu
autoritarismo, seus preconceitos e suas discriminações de toda ordem: sociais,
econômicas, políticas, de gênero, de opção sexual, de cor…
Quero
apresentar-lhe o livro Meninas más, mulheres nuas– as máquinas literárias de Adelaide
Carraro e Cassandra Rios,
de Pedro Amaral, recentemente lançado pela editora Papéis
Selvagens, aqui do Rio.
Neste pequeno bilhete – com o
qual eu a convido e o convido a partilhar comigo a agradável leitura de Pedro
Amaral — você verá, veremos, o enfrentamento de Adelaide e Cassandra aostatu quo de nossa sociedade tradicional,
enfrentamento que levam a cabo com suas narrativas, com a rebeldia do texto e,
numa quase simbiose entre autor e personagens, no embate que afinal levaram a
cabo com o próprio enredo de suas vidas. Assim, ouso dizer que os romances de
Adelaide e Cassandra (condenados pela moral vigente e pela crítica literária
preconceituosa que simplesmente os ignorou) foram um instrumento de
resistência de duas escritoras à margem do ‘sistema’, duas intelectuais ‘fora
da curva’, uma forma distinta da luta que movemos hoje, mas, para todos os
efeitos e consequências, uma resistência à mediocridade, à ditadura do
‘politicamente correto’, uma bofetada na ordem moral que sanciona a desordem
social e a exploração do homem pelo homem.
Pedro, como você talvez já saiba
ou desconfie, é meu filho, mas não é esta a razão que me leva a apresentar seu
livro, senão a qualidade de texto e a contribuição de ânimo que traz a todos
nós que pretendemos romper com o conservadorismo e o atraso que nos rondam.
Roberto Amaral é escritor e ex-ministro de Ciência
e Tecnologia.
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