Cheio de gente defendendo o subsídio estatal ao carnaval porque "é uma festa popular que atrai turistas e gera impostos" (um argumento muito parecido ao que foi usado pra justificar a construção de estádios bilionários em capitais sem times de futebol na primeira divisão, como Manaus, Cuiabá, Brasília e Natal, e que agora estão abandonados), então eu fui atrás de algumas informações aqui.
A Disney é o maior império global de entretenimento. Nada no mundo atrai mais turistas que seus parques, nem gera mais impostos: do faturamento de US$ 53 bi (2015), a Disney paga 33,8% em impostos, e está entre os 40 maiores contribuintes dos EUA, segundo a Thomson Reuters. Com tanta grana rolando, a Disney certamente mereceria pelo menos um empurrãozinho por parte da Secretaria Federal de Turismo dos EUA (que não existe), mas nenhum governo precisa fazer propaganda pra Disney, porque ela já gasta 7,4% de seu próprio faturamento nisso, segundo o Business Insider, número que a coloca entre os 10 maiores anunciantes do país. Nenhum filme da Disney é precedido pelo logo da "Agência Norte-Americana de Cinema" ou "Apoio: Prefeitura de Orlando". Número total de leis de incentivo à cultura em Moana: zero.
Mas a Disney é gigante - vamos pra um exemplo menor. Top Gun pode bem ser considerado um filme de propaganda estadunidense. Os russos não tinham nada sequer remotamente parecido com Tom Cruise pilotando um F-14 Tomcat e pegando a Kelly McGillis. Como aquilo era pré-CGI, os aviões aparecendo no filme são reais, e o estúdio precisou contar com o apoio e autorização da Marinha. Mas o apoio não foi financeiro: os produtores precisaram reembolsar o governo dos EUA por cada hora de vôo dos jatos, ao custo de US$ 40 mil a hora. Somente um míssil foi disparado em todo o filme, porque um único SideWinder custa US$ 84.000 (e como os mísseis são contratados em lote e não fabricados continuamente, seria um escândalo se os EUA entrassem numa guerra e os mísseis fossem vistos desperdiçados num filme e não utilizados para salvar as vidas dos pilotos em combate). O diretor simplesmente invertia os ângulos da tomada pra fazer parecer que se tratava de mais de um míssil. Apesar da imagem favorável dos EUA que o filme ajudou a projetar mundialmente (era o governo Reagan e o antiamericanismo estava no auge), nunca houve um Top Gun 2, simplesmente porque metade do orçamento do primeiro filme foi usado pra reembolsar o contribuinte americano pelo uso de seus preciosos aviões numa peça de entretenimento, e não sobrou grana pra continuação.
Isso deve ser porque os EUA são um país paupérrimo, subdesenvolvido. Ricos somos nós aqui em Banânia, que deixamos de comprar ambulância e pagar policial pra financiar o enredo "Carnavaleidoscópio Tropifágico" (sim, e não estou inventando isso), e ainda xingamos quem reclama de "fundamentalista religioso" e "ultraconservador".
Quase não dá pra reclamar do governo aqui - o problema do Brasil é mesmo o brasileiro.
Por Rafael Rosset.
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