Cento e vinte dias. Pode até
parecer pouco para quem aguarda o dia do casamento, a viagem programada ou até
mesmo o dia da sua formatura. Contudo, para quem espera pelo tratamento do
câncer é uma eternidade. No Brasil, em média, pacientes diagnosticadas com
câncer de mama, através do sistema público, sofrem todo esse tempo para conseguir
iniciar a quimioterapia, por exemplo.
Tristemente, cerca da metade
das pacientes recebem a confirmação de câncer de mama em estágios já avançados.
Associa-se a esse número, que 40% têm atendimento em até um ano para obter o
diagnóstico, de acordo com dados do TCU (Tribunal de Contas da União). Havendo
a necessidade de cirurgia, a angústia da espera chega a oito meses para
realizar o procedimento, desde que não ocorra cancelamento nesse intervalo e a
data seja protelada.
A lei 12.732/2012 preconiza
que o paciente com neoplasia maligna – câncer – tem direito de se submeter ao
tratamento no Sistema Único de Saúde (SUS), no prazo de até 60 dias, contado do
dia que recebeu o diagnóstico. Porém, estatística do Sistema de informações do Câncer
(SISCAN) evidencia que apenas 26,6% do total registrado em 2015 iniciaram
tratamento dentro do prazo determinado. Entretanto, em contrapartida ao
imbróglio da morosidade encontram-se os pacientes, que não têm um minuto sequer
a perder.
Um dos mais importantes
centros de estudo e tratamento da doença no país, o Instituto Nacional do
Câncer (INCA), vive atualmente uma triste realidade, pela qual problemas
estruturais atingem diretamente os pacientes que usam os seus serviços. Filas
quilométricas para atendimento, macas improvisadas, deficiência nos suprimentos
hospitalares e até mesmo falta de manutenção. Atente-se ao fato de que estamos
falando da maior referência nacional em oncologia e, desse modo, temos a
oportunidade de fazer uma reflexão de como andam os demais serviços Brasil
afora. Infelizmente, ao passo que o número de leitos destinados a esses
pacientes seguem limitados, com crescimento pífio, o número de diagnosticados
cresce exponencialmente.
A rapidez na detecção e no
tratamento do câncer é decisiva para a cura do paciente. À medida que o tempo
avança, reduzem-se as chances e, por isso, não estamos diante de uma discussão
banal. Ajustar a realidade ao que é tido como ideal, há de ser sentido em curto
prazo. Uma regulação mais eficiente, pela qual disponha de dados precisos
quanto ao estágio da doença; ampliação dos serviços oncológicos, gerando
descentralização, são alguns dos exemplos. Assim sendo, a otimização melhora o
planejamento, promove um gerenciamento eficaz dos gastos públicos e,
principalmente, gera menor tempo para início do tratamento.
O câncer não espera! Tampouco
aceita medidas casuísticas para resolver o problema. A responsabilidade sobrecai
a toda a sociedade, pois devemos ter clareza de posição e reconhecimento da
gravidade. Portanto, usemos até mesmo do ativismo da mídia para expor
rotineiramente essas necessidades, de modo que o ser humano seja respeitado e a
luta pela vida contra o câncer possa ser de fato a realidade. Enfim, o tempo
tem duas caras, se bem aproveitado é um grande aliado, mas do contrário é um
grande inimigo.
Por Tiago A. Fonseca Nunes.
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