Democracia em vertigem com direção de Petra Costa, musicado
por Lucas Santtana, roteirizado por Petra Costa, Moara Passoni, Carol Pires e
David Barker e com produção de Joanna Natasegara, Shane Boris e Tiago Pavan é
um documentário envolvente. Diferente de outros que narram a mesma época da história
do Brasil, ele mostra a história de uma mulher que viveu os momentos da catarse
nacional e que levou boa parte da população às ruas de São Paulo contra o
aumento de R$ 0,20 nas passagens de ônibus urbanos contagiando o país. Este
filme denuncia durante as duas horas e um minuto de narrativa, que aquilo só
foi possível com o apoio incondicional da grande mídia.
Eu conheço a Petra de outro filme documentário seu, Elena.
Um dia vendo Televisão e como todo bom brasileiro com um
pouco de tempo e folga, estava mudando de canal em canal, e me chamou a atenção
o movimento da câmera andando pelas ruas de Nova Iorque em meio a uma multidão.
Aquilo me deu um desespero arretado e ao mesmo tempo me fez parar para ouvir a
voz que dizia estar em busca de alguém naquela metrópole americana. Ela
buscava, junto com sua mãe, a irmã Elena que teria deixado o Brasil e parado de
manter contatos. Valeu assistir.
A música de Lucas Santtana consegue desde o início nos
transportar para dentro da história. Ele conseguiu dar emoção, drama e na
medida certa conseguir que Petra pudesse bailar em plena avenida sem que o
filme perdesse o ritmo.
Construído com cenas feitas no Sindicato dos Metalúrgicos
de São Bernardo em São Paulo, nos dias em que Luís Inácio Lula da Silva esteve
refugiado na tentativa de evitar a sua prisão pela polícia federal em uma
operação da chamada Lava jato, o material faz um movimento temporal para contar
como tudo se passou até aqueles momentos emocionantes.
O documentário mostra como se deu, desde os primeiros
movimentos em São Paulo, a participação nociva que foi dos Black Blocs, a
transformação de uma sociedade antes pacata por uma intransigente que chega a
expulsar de suas manifestações pessoas do mesmo pensamento, mas que estavam
vestindo uma camiseta vermelha. A repressão policial contra os movimentos
populares de esquerda, escolhidos pelas autoridades como o alvo a ser
eliminado.
Se conseguiu no documentário mostrar os dois lados. Os que
buscavam a todo o custo retirar a força uma presidente eleita democraticamente
e aqueles que lutaram para que a democracia não fosse ferida de morte. E as
imagens e falas de cada um desses caminhos emocionam ao espectador. Nitidamente
se vê pessoas humildes falando do que seria de ruim e como os governos do
Partido dos Trabalhadores levam benefícios e dignidade aqueles que antes não
tinham.
Seus personagens, Dilma Roussef, Lula, Eduardo Cunha, presidente
da Câmara dos Deputados e a pessoa responsável pela articulação do impeachment,
além de Jair Bolsonaro, são retratados na forma mais nua e crua que se poderia
conseguir em meio a um clima tão tenso. Vemos cenas de um deputado a época
circulando pelo congresso nacional entre jornalistas e pessoas sem que ninguém
lhe desse a mínima atenção. Se quer era ouvido. Mas que soube, junto com seus
filhos, conseguir captar o sentimento de ódio que estava nas ruas e que o levou
a ser o atual presidente da república.
Petra ainda mostrou dignamente uma mulher que já foi presa,
torturada, humilhada publicamente e que em seu momento de dor no dia que esteve
na Câmara Federal para se defender da acusação, altiva, enfrentando seus
algozes de frente e sem abaixar a cabeça, olhando a cada um dos seus detratores
olhos nos olhos. Dilma em um único momento se emocionou, foi quando lembrou das
torturas que recebeu quando presa pela ditadura militar.
E chega ao final como começou, na sede do sindicato onde
foi realizado uma missão na manhã do dia 07 de abril de 2018 para celebrar a
data comemorativa se viva estivesse, de Dona Marisa Leticia, esposa de Lula.
Com discurso que emocionou a quem lá esteve ou assistiu pela internet através
da TVT – Televisão dos Trabalhadores, o ex-presidente chama a todos para que
não deixem de lutar. E finalmente, o documentário mostra a luta dos
trabalhadores que impedem a primeira tentativa de Lula de ir a Curitiba,
barrando sua saída por um portão. E termina com imagens do voou que levou o maior
líder político do Brasil para a cadeia. E deixa a certeza de que houve uma
injustiça cometida.
Espero que a Petra Costa nos presentei com mais um
documentário, desta vez, sobre a Operação Lava jato e as denúncias que o Site
The Intercept está fazendo em uma série de matérias publicadas na internet. Tá
ai um bom assunto que pode render um novo e bom filme.
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