Cuide bem do que não tem preço

Chegou o momento em que mensagens de "Feliz Natal" pipocam nos celulares e as redes sociais se tornam vitrines de declarações afetuosas, como se o mundo inteiro fosse um grande amigo secreto em que ninguém sabe muito bem quem é o presenteado. O coração se aquece, é verdade. Mas, em meio a tantas felicitações, uma frase ecoa: “Cuide bem daquilo que você mais quer! É caro demais perder o que não tem preço!”

Lembro-me de um amigo que contou sua experiência de vida quando um velho senhor, com suas mãos calejadas e olhar profundo lhe confidenciou: “Filho, a gente gasta mais energia com o que é supérfluo do que com o que realmente importa.” Na época, ele acheou aquilo bonito, mas meio óbvio. Só entendeu anos depois, quando percebeu que passava mais tempo respondendo e-mails do trabalho do que ouvindo a sua avó narrar pela enésima vez como conheceu seu avô. Quando ela se foi, o silêncio lhe gritou mais alto do que qualquer mensagem arquivada.

Essa época de fim de ano nos convida a reflexões que, muitas vezes, enterramos sob pilhas de compromissos. Paramos para pensar: será que cuidamos bem do que não tem preço? Ou será que o deslizar dos dias nos faz esquecer que o essencial precisa de zelo constante? Ah, que ironia! Dizemos amar, mas priorizamos o que tem prazos, rótulos e boletos.

Certa feita, uma amiga decidiu que passaria um Natal sem celular. “Eu quero ouvir risadas de verdade, não áudios”, disse ela. E foi então que, ao servir a ceia, sua sobrinha de quatro anos lhe perguntou: “Tia, você não gosta de foto?” “Gosto sim, por quê?” “Porque a gente não tira foto com quem não gosta muito...”

E ali estava uma lição infantil: nos preocupamos em registrar os momentos mais para o mundo do que para o coração. Talvez, no fundo, seja medo de esquecer. Mas a memória que realmente importa não é aquela que vira postagem; é a que se instala, silenciosa e terna, no fundo da alma.

Às vezes precisamos reaprender a valorizar o que importa. Isso exige humildade: admitir que negligenciamos quem ou o que mais amamos é desconfortável. Mas, nesse recomeço, esta a chance de não apenas pensar, mas sentir diferente.

Então, antes que o ano termine, entre uma taça de vinho e um pedaço de panetone (que adoro), olhe ao redor. Note quem está ali. E, sobretudo, esteja ali também. De verdade. Porque cuidar bem daquilo que não tem preço pode não garantir que nunca se perca, mas certamente impede que seja esquecido.

Feliz Natal!


Por: Luciano Júnior.

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