O Nair Alves e Dr Muccini

de político... Só documentado, e olhe lá!

Foi numa daquelas ocasiões que o destino nos prega peças felizes que conheci o lendário Dr. Muccini. Durante as comemorações dos 50 anos do CPA, a Editora Fonte Viva foi contratada para produzir uma revista e entrevistas com ex-presidentes do clube. Eu já não fazia mais parte do quadro, mas aceitei o convite, principalmente porque entre os entrevistados figurava ele, o primeiro diretor do Hospital Nair Alves de Souza e tinha duas lendas que eu queria esclarecer com ele e uma delas relato a seguir.

Dr. Muccini era o tipo de figura que nos faz acreditar que carisma e energia podem vencer qualquer batalha contra o tempo. Entre risos e relatos sérios, ele confirmou a famosa história envolvendo Getúlio Vargas, um episódio que mais parecia uma mistura de comédia e política à brasileira.

Nós primórdios, o então presidente visitava Paulo Afonso, fascinado com a grandiosidade da Chesf e sua promessa de modernidade para o Nordeste. Numa dessas visitas Getúlio foi levado ao Hospital Nair Alves de Souza, um marco de excelência para a época. Impressionado com a estrutura, perguntou ao Dr. Muccini:

"O que mais vocês precisam aqui?"

Muccini não perdeu tempo:

"Uma maternidade, presidente. É indispensável para atender a nossa população."

Getúlio, com a pompa que a ocasião exigia, respondeu: "Está autorizada!" Mas antes que o ar de solenidade tomasse conta, Muccini, rápido como um raio no céu do sertão chuvoso, sacou do bolso papel e caneta e estendeu ao presidente. "Se puder autorizar e assinar aqui, presidente, seria ainda melhor."

O constrangimento foi imediato. A comitiva deve ter segurado o riso, Getúlio hesitou, mas acabou rindo junto. "Por escrito?" perguntou, quase incrédulo, e Muccini, sempre elegante, respondeu: "O senhor sabe como é, presidente. Promessas no papel ficam melhor colocadas."

A maternidade, até que saiu. E talvez ali, naquele gesto divertido, estivesse plantada a raiz de um futuro em que promessas para o hospital seriam tantas que a população mal poderia contar.

O Hospital Nair Alves de Souza viveu anos de ouro, apoiado pela Chesf e por diretores que viam na saúde um dever ético. No entanto, com o passar do tempo, a relação mudou. Mesmo, décadas, antes da privatização de parte da companhia, o hospital já dava sinais de abandono. A Chesf queria se livrar. Os serviços foram reduzidos, e em determinado momento, a Chesf chegou ao cúmulo de obrigar o hospital a funcionar apenas no horário comercial, reza a lenda.

Os sinais de descaso eram evidentes. Conta-se que diretores da Chesf zombavam até do "mingau" servido no café da manhã dos pacientes e funcionários, como se fosse uma piada que ilustrasse o descompromisso crescente com o hospital. Aos poucos, a estrutura foi sucateada, e o que antes era exemplo virou motivo de vergonha.

Enquanto o hospital minguava, as promessas políticas surgiam como antídotos falsos. Em toda eleição, candidatos posavam com maquetes, faziam discursos inflamados e prometiam ressuscitar o Nair Alves. Mas nada saía do papel – só conversa mole pra boi dormir e no sertão tem mais bode.

A pandemia de 2020 trouxe uma breve lembrança da importância do hospital, mas o investimento foi tímido e pontual. Hoje, novamente, surgem promessas de um "novo hospital". O povo, calejado, observa com ceticismo. Para muitos, é mais fácil acreditar em Papai Noel do que nas palavras dos políticos que se sucedem. Mas, quem sabe? Milagres acontecem!

Por: Luciano Júnior.

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