Eu sou de um tempo que para nos comunicarmos com parte da população usávamos o mimeógrafo, o famoso “Cachacinha”. Às vezes ainda sinto o cheiro do álcool que impregnava toda a sala da cúria diocesana na Igreja Nossa Senhora de Fátima, ao lado a 1ª Companhia de Infantaria do Exército Brasileiro no centro da cidade de Paulo Afonso na Bahia.
Padre Mário, que depois se
tornou Bispo da região, era quem autorizava as incursões, as noites as
escondidas para que aquele grupo de jovens estudantes pudessem imprimir
panfletos que denunciavam muitas das vezes, a forma como a população era
tratada pelos militares. Também serviu para mobilização contra a Embasa –
Empresa Baiana de Água e Saneamento, que distribuía um produto sem qualquer
tratamento e cobrava muito caro por ele.
Aquele Cachacinha foi importante na impressão de materiais da campanha, “Zero, é quanto a Chesf paga de Impostos” pela geração de energia a Paulo Afonso e que foi vitoriosa ao ser incluída o pagamento de Royalties a todas as cidades com área inundadas para a produção da elétrica.
Já ali pelo ano de 1984,
aquele grupo de “meninos de calça curta”, como ficaram conhecidos na cidade,
conseguiram ter uma Brasília, que não era amarela, era Bege, com duas cornetas
no teto e que levava informações de rua em rua as mobilizações. A mudança fez a
voz chegar onde antes não era possível.
Surgiram os computadores. Quem
tinha um era considerado fora de séria na sociedade. Sabia manusear algo que
estava na palma da sua mão. Mesmo com as coisas mudando na comunicação, os
livros nas livrarias, os jornais continuaram a ser vendidos nas bancas. E as
informações neles era visto como “verdade, verdadeiras”. Fossem os contos, as
crônicas, os romances, os ensaios, biografias... Não importava o gênero da
escrita, tínhamos a certeza de que o autor da matéria jornalística ou de um
livro, estava falando algo verdadeiro, mesmo que para isto os pensamentos
tivessem que seguir a imaginação do autor. O jornalismo era coisa séria.
Aí surgiu a internet e com
elas veio os smartphones, e o mundo ficou literalmente na palma da mão. Hoje
basta uma pesquisa e qualquer pessoa tem a resposta em segundos na tela do seu
celular. Surgiram também os aplicativos de bate-papo. E foi aí que saímos do
cachacinha, onde a informação começava em uma máquina de datilografia, para a velocidade
de uma digitação e publicação. Um fato ocorre agora na China e em minutos, pode
estar sendo informado por todo o mundo. Cada um com sua versão. Saímos do
telefone sem fio e estamos na era da informação viral. Quanto mais absurda for
dado uma notícia, mais engajamento ela recebe.
O bom jornalista, o bom
jornalismo deixou de ser prioridade nas redações. São poucos os que investigam
informações. Está em moda o jornalismo de fonte anônima. Se escreve o que bem
entende ou o que o dono do jornal, revista, site entende como sendo a verdade,
e se publica como “fonte anônima”. Não passa da opinião publicada para atingir
seus objetivos, políticos, financeiros ou sociais.
Quando você ler, “fonte
anônima”, desconfie. O autor pode estar dando a sua opinião e está usando o
artifício do “anonimato” para ludibriar a informação pública.
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