Deputados da bancada do PL usaram as chamadas “emendas Pix” para repassar milhões a prefeituras que contrataram a mesma empresa alvo de auditorias e suspeitas de superfaturamento, reequilíbrio contratual irregular e licitações dirigidas, segundo investigações públicas e relatórios de tribunais de contas. Entre os repasses apontados estão R$ 1,5 milhão destinados por Júlía Zanatta e R$ 1 milhão por Zé Trovão, valores que teriam sido aplicados em obras pela empresa Qualidade Mineração em municípios de Santa Catarina, hoje sob lupa do TCU e do TCE-SC. A prática reacende o debate sobre a rastreabilidade e a transparência das transferências diretas do parlamento para executivos locais.
Levantamento em portais oficiais mostra que as “emendas Pix”
cresceram como instrumento de transferência direta sem convênios formais, o que
facilitou a movimentação rápida de recursos, mas também dificultou o
acompanhamento técnico de execução e prestação de contas. Em municípios onde a
empresa ganhou as licitações, prefeitos afirmam ter recebido liberações
parlamentares que, em tese, financiaram trechos de pavimentação, drenagem ou
revitalização, fontes técnicas, contudo, apontam para serviços aquém dos
padrões, uso de materiais inferiores e planilhas de medição inconsistentes que
sugerem pagamentos indevidos.
Quem ganhou com isso? Além da Qualidade Mineração, que
figura no centro das auditorias e recebeu repasses que coincidem com o período
das emendas, há registros de que recursos foram direcionados a obras municipais
cujo cronograma foi inflado e a pagamentos de aditivos questionáveis,
beneficiando cadeias de fornecedores locais e intermediários sem histórico de
capacidade técnica comprovada. Parlamentares ligados à ofensiva de repasses
negam irregularidades e afirmam que destinam verbas para obras essenciais,
órgãos de controle, porém, já abriram múltiplos procedimentos para exigir
prestações de contas e apurar responsabilidades administrativas e penais.
A combinação entre transferências por Pix, contratos
aditivados e exigências de edital que restringem concorrência desenha um mapa
clássico de fragilidade institucional para o dinheiro federal desembarca
rápido, obras aparecem, e, depois, os auditores descobrem o rastro. O caso de
Zanatta e Zé Trovão não é isolado, é exemplar da zona cinzenta que proliferou
após a adoção das emendas Pix e que agora precisa ser esclarecida nas varas e
nos tribunais.
Procurados, os gabinetes não apresentaram, até a publicação,
documentação que comprove a execução plena dos serviços pagos com as emendas,
os órgãos de controle prometem seguir a trilha dos recursos até as notas
fiscais e medições finais. Quem paga a conta, no fim, é o contribuinte.
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