AO COMPANHEIRO JAQUES WAGNER. (Por Ernesto Marques)

Prestes a completar 50 anos, sobra-me cada vez menos tempo para muitas coisas, inclusive para ingenuidades. Não se trata de botar a mão no fogo, mas depois de 32 anos de militância profissional e política na comunicação; depois de cobrir umas tantas eleições; depois de ter trabalhado em outras tantas campanhas eleitorais – a primeira delas, de ACM para governador, em 1990; e, finalmente, depois de ter trabalhado diretamente com Jaques Wagner por mais de três anos como seu assessor de imprensa, sinto-me à vontade para afirmar que se quisessem fazer uma fila de políticos pecadores para subir ao cadafalso, ele deveria estar, se muito, nas últimas posições.

Se o que generosamente chamamos hoje de “jornalismo” fizesse, de fato, alguma investigação sobre crimes de corrupção, seria mais fácil encontrar nas fundações do prédio da TV Bahia provas mais precisas de ilícitos, do que nos ponteiros dos relógios de Wagner, apreendidos em mais uma ação espalhafatosa da Polícia Federal.

Não ousaria, em hipótese alguma, duvidar da competência dos meus colegas trabalhadores da emissora do clã dos Magalhães. Pelo contrário! Lamento hoje, como lamentava quando lá atuei como repórter, a mão pesada dos interesses políticos da família sobre a pauta do maior conglomerado de mídia da Bahia. Mas a ideia do faro apuradíssimo de quem vê uma viatura da PF passar como indício de uma grande pauta subestima a inteligência do distinto público.

Seria então uma incrível coincidência, repórteres de afiliadas da Rede Globo em todos os estados onde hoje a Federal já cumpriu mandados da Lava jato compartilharem dessa notável e exclusiva acuidade olfativa? Assim como não se pode duvidar da competência da equipe de jornalismo da Rede Bahia, não parece razoável admitir que colegas de todos os demais veículos de todas as outras cidades onde há investigados, tenham algum tipo de déficit no tal faro jornalístico, para explicar a razão de chegarem sempre depois dos globais.

Além disso, é no mínimo chocante ver as convicções da delegada federal Luciana Matutino sobre as cifras que alardeia com espalhafato, como propina recebida pelo ex-governador. Não batem com os números divulgados pelo impoluto Ministério Público Federal, em junho de 2013. No seu site, o MPF jactava-se de ter proporcionado economia de R$ 150 milhões graças a sugestões de procuradores federais e estaduais, acolhidas pelo governo baiano de então, liderado pelo mesmo Jaques Wagner.

Da mesma maneira, a afirmação da delegada quanto à suposta falta de fiscalização na obra da Arena Fonte Nova tem um irrefutável contraponto nas declarações de Benjamin Zymler, então presidente do TCU. Em visita ao canteiro de obras, além de elogiar o modelo de PPP do governo baiano, Zymler declarou ao jornal Correio (da mesma Rede Bahia): “esse modelo traz inovações que podem torná-lo permanente”, disse, contestando críticas ao sigilo nos orçamentos definido no regime diferenciado de contratações.

Diante disso e de todos os abusos e vazamentos dos últimos anos, é mais do que razoável desconfiar das intenções da vetusta PF. É a mesma instituição que já caçou e matou comunistas nos tempos em que um jovem Jaques Wagner foi obrigado a deixar o curso de Engenharia na PUC/RJ e, clandestino, veio morar no subúrbio de Salvador, onde aprendeu o ofício de soldador industrial.

Ao batizar jocosamente mais essa espalhafatosa e midiática operação de “cartão vermelho”, a PF, cada vez mais partidária, quer expulsar do campo eleitoral um político carismático e reconhecidamente habilidoso, com capacidade para substituir Lula na disputa pela Presidência da República. Isso num ano em que a PF planeja eleger bancada, com agentes e delegados candidatos ao Congresso Nacional, surfando na onda da hipocrisia falso-moralista.

Quase sete anos depois de deixar sua assessoria, sinto-me não só à vontade, mas na obrigação de dar o meu testemunho, depois dessa longa quarentena. Assessorei e conheci o governador que forçou a Odebrecht a reduzir o contrato de operação do emissário submarino de Salvador em R$ 120 milhões. Testemunhei sua firmeza na renegociação de créditos de ICMS das empresas do Pólo de Camaçari, onde ele se constituiu na grande liderança que é. Quitou a pendência acumulada em governos anteriores na condição de as indústrias reinvestirem esses créditos nas plantas baianas.

São apenas dois exemplos de pratos fartos que um propineiro aproveitaria para encher malas e caixas com muitos milhões. Nessas e em muitas outras oportunidades, vi Wagner defender os interesses da Bahia.

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