Prestes a completar 50 anos, sobra-me cada vez menos tempo
para muitas coisas, inclusive para ingenuidades. Não se trata de botar a mão no
fogo, mas depois de 32 anos de militância profissional e política na
comunicação; depois de cobrir umas tantas eleições; depois de ter trabalhado em
outras tantas campanhas eleitorais – a primeira delas, de ACM para governador,
em 1990; e, finalmente, depois de ter trabalhado diretamente com Jaques Wagner
por mais de três anos como seu assessor de imprensa, sinto-me à vontade para
afirmar que se quisessem fazer uma fila de políticos pecadores para subir ao
cadafalso, ele deveria estar, se muito, nas últimas posições.
Se o que generosamente chamamos hoje de “jornalismo”
fizesse, de fato, alguma investigação sobre crimes de corrupção, seria mais
fácil encontrar nas fundações do prédio da TV Bahia provas mais precisas de
ilícitos, do que nos ponteiros dos relógios de Wagner, apreendidos em mais uma
ação espalhafatosa da Polícia Federal.
Não ousaria, em hipótese alguma, duvidar da competência dos
meus colegas trabalhadores da emissora do clã dos Magalhães. Pelo contrário!
Lamento hoje, como lamentava quando lá atuei como repórter, a mão pesada dos
interesses políticos da família sobre a pauta do maior conglomerado de mídia da
Bahia. Mas a ideia do faro apuradíssimo de quem vê uma viatura da PF passar
como indício de uma grande pauta subestima a inteligência do distinto público.
Seria então uma incrível coincidência, repórteres de
afiliadas da Rede Globo em todos os estados onde hoje a Federal já cumpriu
mandados da Lava jato compartilharem dessa notável e exclusiva acuidade
olfativa? Assim como não se pode duvidar da competência da equipe de jornalismo
da Rede Bahia, não parece razoável admitir que colegas de todos os demais
veículos de todas as outras cidades onde há investigados, tenham algum tipo de
déficit no tal faro jornalístico, para explicar a razão de chegarem sempre
depois dos globais.
Além disso, é no mínimo chocante ver as convicções da
delegada federal Luciana Matutino sobre as cifras que alardeia com espalhafato,
como propina recebida pelo ex-governador. Não batem com os números divulgados
pelo impoluto Ministério Público Federal, em junho de
2013. No seu site, o MPF jactava-se de ter proporcionado
economia de R$ 150 milhões graças a sugestões de procuradores federais e
estaduais, acolhidas pelo governo baiano de então, liderado pelo mesmo Jaques
Wagner.
Da mesma maneira, a afirmação da delegada quanto à suposta
falta de fiscalização na obra da Arena Fonte Nova tem um irrefutável
contraponto nas declarações de Benjamin Zymler, então presidente do TCU. Em
visita ao canteiro de obras, além de elogiar o modelo de PPP do governo baiano,
Zymler declarou ao jornal Correio (da mesma Rede Bahia): “esse modelo traz
inovações que podem torná-lo permanente”, disse, contestando críticas ao sigilo
nos orçamentos definido no regime diferenciado de
contratações.
Diante disso e de todos os abusos e vazamentos dos últimos
anos, é mais do que razoável desconfiar das intenções da vetusta PF. É a mesma
instituição que já caçou e matou comunistas nos tempos em que um jovem Jaques
Wagner foi obrigado a deixar o curso de Engenharia na PUC/RJ e, clandestino,
veio morar no subúrbio de Salvador, onde aprendeu o ofício de soldador
industrial.
Ao batizar jocosamente mais essa espalhafatosa e midiática
operação de “cartão vermelho”, a PF, cada vez mais partidária, quer expulsar do
campo eleitoral um político carismático e reconhecidamente habilidoso, com
capacidade para substituir Lula na disputa pela Presidência da República. Isso
num ano em que a PF planeja eleger bancada, com agentes e delegados candidatos
ao Congresso Nacional, surfando na onda da hipocrisia falso-moralista.
Quase sete anos depois de deixar sua assessoria, sinto-me
não só à vontade, mas na obrigação de dar o meu testemunho, depois dessa longa
quarentena. Assessorei e conheci o governador que forçou a Odebrecht a reduzir
o contrato de operação do emissário submarino de Salvador em R$ 120 milhões.
Testemunhei sua firmeza na renegociação de créditos de ICMS das empresas do
Pólo de Camaçari, onde ele se constituiu na grande liderança que é. Quitou a
pendência acumulada em governos anteriores na condição de as indústrias
reinvestirem esses créditos nas plantas baianas.
São apenas dois exemplos de pratos fartos que um propineiro
aproveitaria para encher malas e caixas com muitos milhões. Nessas e em muitas
outras oportunidades, vi Wagner defender os interesses da Bahia.
Por Ernesto Marques.
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