Brasília comemorou nesse 21 de
Abril seus 57 anos de existência e o Governo de Brasília GDF tem promovido uma
série de shows em comemoração à data.
O primeiro grande show de
destaque foi Elba Ramalho que subiu no palco às 22h dessa sexta-feira na Torre
de TV de Brasília, região central da cidade. Como um bom membro da Capital do
Forró (Caruaru/PE) fui ver o show de uma artista que, acima de tudo, canta e
valoriza a cultura do Nordeste. Outro motivo especial para sair de casa é que
por muitos anos Elba Ramalho abriu o São João de Caruaru, razão suficiente para
eu matar as saudades e afagar a memória.
Em determinado momento da
apresentação, como é de praxe em praticamente todos os eventos públicos que
agregam o povo (e sobretudo em Brasília, uma das capitais, senão a capital,
mais politizadas do país, por razões óbvias), o público gritava enfaticamente
"Fora Temer". E eu na minha 'perfeita ilusão' (sim, eu amo Lady Gaga)
achei que a artista apoiaria a manifestação ou, no mínimo, respeitaria silente
a liberdade de expressão. Minha ilusão decorreu do fato de boa parte da classe
artística ter reconhecido o Governo Temer como inimigo da categoria desde a extinção
do Ministério da Cultura, seu ato político inaugural. Decorreu também do fato
de achar que Elba, como legítima nordestina que é, tinha clareza do que foi o
desenvolvimento do Nordeste nos governos democráticos anteriores ao atual (e o
quanto as medidas impopulares do PMDB-PSDB afetarão o nosso povo daqui pra
frente). Ledo engano.
Primeiro Elba Ramalho
interrompeu a manifestação dizendo "Vamos parar com essa política chata!
São todos iguais. Vamos passar o Brasil a limpo" no melhor discurso
(Sérgio) Morista que poderia haver. Em seguida, e como extensão desse primeiro
momento, quando a maioria do público havia se dado conta do absurdo que
acontecera e estava calada, a artista começa a bater boca com alguém na frente
do palco "Você é um petista que quer me agredir? Quer subir aqui e cantar
no meu lugar?". Foi horrível, constrangedor e decepcionante. O que
inicialmente parecia apenas despolitização era na verdade uma posição. Posição
que, para além de tudo, (1) criminaliza o PT e (2) enfia toda a esquerda em um
único partido político. Posteriormente, ela cantou "Monte Castelo"
não por estar na terra do gigante Renato Russo, mas pelos versos bíblicos que
ela carrega e finalizou com uma música do cancioneiro católico cujo nome eu não
sei, mas que é famosa pelos trechos "E ainda se vier noites
traiçoeiras...". Fui teletransportado de um show público, laico (sim, foi
pago com recursos do Estado), à meia-noite, repleto de gays (sim, Brasília é
super livre e 'friendly') para uma missa dominical das 10h da manhã.
Pra completar o circo de
horrores, uma mulher, saída não sei de onde nem de que partido político,
legitimada e estimulada pela cantora, veio até a nossa roda, composta por parte
da esquerda acadêmica da Pós do Instituto De Ciencia Politica - IPOL/UnB que somou
coro ao "Fora Temer" nos chamar de "bostinhas" (sic) e
gritar "Avante Temer" (kkkkkkk). Uma artista de verdade, ainda mais
uma que canta um repertório popular - repertório esse carregado de dimensões
políticas, injustas e carentes - não pode estar desconectada dos anseios do seu
povo sob risco dele não se ver reconhecido nela.
Elba Ramalho, apesar de
conterrânea, você não me representa e nem a grande parcela nordestina atingida
pelos movimentos anti-democráticos (com grande expressão no Sudeste da Paulista)
que estão a perder de vista o pouco de dignidade conquistada nos governos
eleitos democraticamente.
Por Cleiton Feitosa.
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