O fingimento da imprensa.

O brilhante texto do advogado eleitoralista e criminalista, Djefferson Amadeus, “Moro finge que não está fingindo que está fingindo que prenderá Lula”, no site Conjur, pode ser estendido para todos os demais atores políticos do campo interessado no golpe, inclusive e, principalmente, a imprensa. A consequência é uma sociedade robotizada e imbecilizada que brada, a plenos pulmões, que é a favor do abuso de autoridade.
O editorial do jornal “Folha de S. Paulo”, desta quinta-feira (20), é um primor de fingimento de que não finge que fique que é imprensa. O jornal mente, ao atribuir ao Partido dos Trabalhadores (PT) o fortalecimento de um antiquíssimo esquema de corrupção, na Petrobras, quando, na realidade, esse esquema foi combatido justamente pelo PT, como ficou revelado não apenas no depoimento de Marcelo Odebrecht, mas pelo placar de partidos envolvidos no referido esquema.
Ato intrínseco da sua genética autoritária e julgadora, a Folha acusa o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, como se houvesse alguma prova contra o presidente, além de delações de presidiários desesperados por liberdade. Ela finge que não protege Moro para detratar quem defende o presidente Lula, classificando esses como extremistas. De extremismo ela entende, apoiou a ditadura militar de 1964, defende a Lava Jato sob todas as coisas com a mesma intensidade que detrata Lula e o PT.
Finge que informa para confundir o leitor, ao circunscrever a operação Lava Jato no âmbito jurídico, afastando-a do proselitismo político, como se ela não fosse um processo política em andamento. Critica o maniqueísmo como se ela mesmo não o fosse, ao apresentar a Lava Jato como paraíso e Lula e o PT como infernos. Um jornal que não cobrou de Temer a confissão do golpe, em entrevista à TV Bandeirantes.
Tenta afastar Moro do proselitismo político, mas desvia o olhar para o protagonismo midiático de um juiz que se presta a usar redes sociais para pedir apoio e não cobra dele por participar de lançamentos de livros de jornalistas alinhados e ser fotografado em convescotes com investigados pela operação que dirige?
Protege com unhas e dentes um juiz que agiu ao arrepio da Lei, ao divulgar conversa captada ilegalmente de agente público com foro privilegiado. Um juiz que exige a presença nas 87 oitivas de testemunhas de defesa do acusado. Se isso não é protagonismo político, é o quê? Aliás, uma política rasteira e infantil.
Quanto à irrealidade condenada pelo jornal, é o que ele passa, como se o País vivesse a plenitude de suas instituições, como se a democracia vigorasse e a economia desse sinais de reação positiva. Furor foi o que o jornal ajudou produzir, com uma cobertura enviesada, na qual o ódio foi um dos sentimentos produzidos pelo uso contínuo de ataques ao PT, a Lula, às esquerdas e à política de uma forma geral.
Por Guilherme Silva

Terra Sem Males, de Brasília-DF
Foto: Joka Madruga/Terra Sem Males

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