Bolsonaro e o bafo



Era manhã de 27 de setembro de 2019. Saída do palácio do planalto, local onde diariamente o presidente Jair Bolsonaro se encontra com jornalistas e um grupo de pessoas que o espera para tirar fotos que logo vão parar nas redes sociais na internet.

São momento em que Bolsonaro sempre tem algo a dizer e que pauta a imprensa, seja escrita, televisada ou virtual, ele sempre consegue falar ou fazer algo para o deleite da imprensa e de seus seguidores.

Naquele dia, Bolsonaro desce do carro e é recebido por alguém que pede, “bate palmas, bate palmas” e em seguida se houve, “mito, mito”. Ele se dirige diretamente a Juliano Daldegan, assistente administrativo do Ministério do Turismo que devia estar de folga naquele dia. Mesmo assim, aproveitou para defender o setor em que atua e declarar “Bolsonaro eu te amo”.


O rapaz tenta entregar um envelope ao presidente que pede ao seu segurança para receber. Em seguida, Bolsonaro fala com alunos vindos de Goiás e o Bafo continua pedindo ajuda. Agora, a 1:08 do vídeo ele tenta chegar mais perto para tirar uma selfie. Aquela fotografia que quase sempre alguém importuna outro para ter um pouco de visibilidade alheia. (Até eu faço isto)

O impressionante é que, agora, Juliano chega a mais ou menos um metro de distância do presidente. Uma distância superior ao primeiro contato mais direto. Fala novamente que o turismo é o futuro do Brasil e não recebe a atenção. Enquanto isto, Bolsonaro pergunta as crianças de quanto teria sido o placar do último jogo do Palmeiras. Antes mesmo que outro respondesse, Bofo grita entusiasmado em poder levar a informação.

1:32 e o presidente pede para que uma das crianças (elas são inocentes), mande um abraço para o Felipe Melo. Jogador e apoiador ardoroso de Bolsonaro e narra qual a mensagem a ser passada, “Filipe Melo, aquele abraço”. Enquanto isto, nosso personagem, Bafo, vai buscando abrir caminho para conseguir a tão sonhada foto com o seu mito.

1:46 e se houve no vídeo um pedido implorando. É ele, Bafo, que pede, “Bolsonaro tira uma foto aqui comigo por gentileza”. Chega a ser emocionante, e mesmo que se discorde das práticas que vem sendo adotadas por Bolsonaro para humilhar o Brasil diariamente, assistir alguém, um dos seus apoiadores implorar por uma selfie me deixou sentimental.

Mas o danado é que neste momento, como em um script mau ensaiado, a pessoa que estava filmando muda o plano sequencial e se dirige para as costas do presidente. Que dá a primeira olhada, como se já estivesse o esperando. 2:11 e Bolsonaro olha para o segurança ao seu lado. Na sequência o câmera se aproxima, providencialmente para que o que será dito seja captado.

2:13, Bolsonaro solta a frase, “Só pelo bafo não vai ter emprego”. Mas não sem antes, com o canto dos olhos ter a certeza de que estava sendo gravado.

Não dá ainda para saber se estas ações de marketing ao inverso de Bolsonaro vão ter algum resultado positivo entre os seus eleitores a longo prazo. A curto prazo o presidente alimenta um número menor de pessoas. São aquelas que estiveram adormecidas e que tinham receio de expressar publicamente seus mais íntimos monstros. Agora, incentivadas e alimentadas diariamente, elas se sentem livres para soltar seus bichos escrotos.

Não dá para ter a certeza de que o “Bafo” foi algo programado com Juliano, mas dá para ter, sim, a certeza de que Bolsonaro sabia o que estava dizendo, para quem estava dizendo e que queria divulgação disto. Tanto que, o vídeo se tornou público.

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