Atrás do cheirinho da Loló.

Os três tinham ido a Salvador para passar uns dias. Naquela época os jovens do interior na capital só podiam dar em duas coisas; matutos impressionados com aquelas casas, um encima da outra e ficam sabendo que o nome era prédio ou se deslumbravam e caiam na gandaia. Pois é desse último estilo que vou falar para vocês.

Javier sempre esteve à frente de sua geração. E quando ganhou de presente as férias, tratou logo de chamar mais dois amigos como companhia naquela aventura. Juntos eles iriam transformar a história da cidade onde moravam na volta para casa.

Lá após passearem por todos os inferninhos a que tinham direito de conhecer. Foram apresentados a um produto que estava chegando ao mercado paralelo da juventude. Ao chegar a uma festa com os amigos lá da capital, os três perceberam que muitos outros estavam levando lenços ao nariz.

- Mas não estamos no inverno! Porque tanta gente está com gripe? Perguntou um dos amigos de Javier.

Foi o bastante para todos do grupo caírem na gargalhada. Foi neste momento em que os matutos “preiboi” tomaram conhecimento do cheirinho da loló que exalava até no ar.

Naquele dia os meninos se fartaram de tanto levar o lenço ao rosto e de sentirem, como me disse eles, a sensação de liberdade naqueles dias de ditadura militar. Ao menos essa foi a desculpa oferecida. E que serviu para o convencimento de que na volta para casa eles iriam trazer aquele produto na bagagem.

Foram a uma farmácia e compraram clorofórmio, álcool etílico e éter. Pronto. Eles depois de provarem a liberdade agora decidiram produzir o “milagre” que apresentariam para seus amigos que ficaram no interior. No hotel em que estavam preparam um verdadeiro laboratório clandestino e improvisado. Química pra lá, química pra cá, e todo o corredor do terceiro andar meia hora depois estava impregnado com aquele cheiro de defunto. Mas meia hora depois os novos cientistas perceberam que os produtos não conseguiam se misturar. Metade do litro ficava com clorofórmio e a outra metade com o álcool. Após várias horas de analises cientificas entre os três amigos um deles resolveu pegar um pedaço de mangueira e soprar na tentativa de misturar os produtos. Foi preciso que o segurassem para que não caísse junto com o material. O cheiro o fez ir às nuvens, declarou ele depois.

Na volta os garotos de Paulo Afonso pegaram o velho e saudoso ônibus da Viazul. Eles sabiam que não podiam colocar aquele vidro no bagageiro, se fizessem isso, aconteceria um desastre. É que a BR 110 naquela época era de terra batida e vidro não era a coisa certa a se transportar no lastro do buzu.

Não precisa nem falar da improvisação que eles fizeram para transportar o produto. Trouxeram dentro, enrolado em um blusão jeans e colocaram entre dois deles. Como não conseguiram cortiça para tapar, usaram um pedaço de sabugo de milho. Improvisaram em tudo. O que importava era introduzir aquele cheirinho junto a galera, que já avisada pelo telefone, estavam todos a esperar. E quando o ônibus estacionou na agência, não tinha rodoviária na cidade, os outros passageiros pensaram que estavam diante de pessoas famosas. Nada disso. Era pura vadiagem mesmo.

Foi assim que a Loló foi introduzida na cidade de Paulo Afonso na Bahia. E de tanta aceitação entre a molecada daqueles dias, meus amigos se tornaram empresários do ramo da Loló. Produziam e distribuíam e comercializavam no Clune Paulo Afonso, que de tanto tentar proibir o uso pela molecada, a diretoria colocou um cartaz na entrada principal com os dizeres, “proibido entrar no clube com qualquer substância alucinógena”.

Vocês nem precisam perguntar se isso deu algum resultado. É claro que não! Só chamou mais a atenção da juventude e a informação se espalhou pela cidade e logo eles tiveram novos concorrentes no empreendimento e tiveram que dividir o comercio local e a atenção das meninas, que ficavam muito doidas depois de usar “o cheirinho da Loló”.

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