Lula: O processo



Ele entrou naquela sala já sabendo o que o esperava durante o seu interrogatório. Aquele homem sabia que falasse o que falasse, mostrasse toda a sua verdade, ele já estava condenado. Diante dos seus acusadores, o que lhe restava era deixar registrado a sua luta contra a injustiça praticada contra ele.

No início o acusado, sabendo que o Processo “é uma fraude” e que busca única e exclusivamente a sua condenação para o afastar da vida pública e do convívio com o seu povo, parte para mostrar a todos os presentes e a quem viria a assistir depois, a sua certeza. Então, em um lance magico ele começa o seu show:

- Doutora, eu só queria perguntar para o meu esclarecimento. Sou o dono do sitio ou não?

Sorrisos na sala de interrogatório. Todos sabiam que ele estava disposto a deixar claro que a acusação que sofre é “uma farsa”.

A magistrada, em tom nervoso responde:

- Isso o senhor que tem que responder e eu não estou sendo interrogada nesse momento.

Assim como Josef K, personagem do livro o Processo do Checo Franz Kafka, Lula sabe que ele já está condenado por antecipação. Ele não acredita que todo o mal-entendido será esclarecido. Há uma pré-disposição de eliminar, por vias judiciais, dando um ar de legalidade, o maior líder político mundial com raízes junto a população mais carente. E ele, parece, decidiu mostrar isto ao mundo. Se já está condenado, o ex-presidente vai mostrar a todos que as acusações não têm nenhuma consistência.

Ao final do Processo, depois de tanta injustiça e sabedor que não restava mais nada a fazer para provar a sua inocência, Josef K pede para dois homens o matar. Ele desconhecia do que era acusado e sabia que as testemunhas que o acusava, mentiam. Morto com uma faca encravada em seu peito, até hoje é lembrado como a injustiça pode ser praticada dentro dos tribunais sem que se possa recorrer a outro órgão para que seja feito Justiça.

Em seu show particular, Lula usou de todas as formas possíveis, e desde o começo mostrou que o podem condenar, como acredita que já está, mas ele continuará sendo o ator principal a denunciar a farsa. Ao responder à pergunta da juíza Gabriela Hardt, ele foi irônico. Não foi soberbo, mas mostrou o lugar de cada um dos presentes na história. Questionado se costumava usar o quarto principal da propriedade, ele saiu com esta:

- Quando me dava, eu ocupava. Isso era uma deferência que eu recebia tanto lá na chácara, quanto no palácio da rainha da Inglaterra, no palácio da rainha da Suécia, em vários lugares que eu frequentei, inclusive no Kremlin, sabe? Eu tive o prazer de ser convidado a dormir no Kremlin. Eu não sei o que o Ministério Público viu de absurdo nisso. Disse Lula.

Eu não sei se vivo, Kafka conseguiria antecipar um processo com tantas cartas já marcadas. Mas com certeza, ele se surpreenderia com toda a história e teria um bom tema para escrever um bom livro.

Lula não é Josef K, e sua história para a política ainda não acabou.

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