A geração de 1978 não hesitou. Desafiou a polícia do
"Antônio Carlos Malvadeza", enfrentou o temido batalhão de choque e
se ergueu contra a estrutura política do poder estatal e da burguesia local. A
CHESF, comandada por um coronel (Gabriel), era um estado dentro do estado, uma
"democracia operária" sob controle militar. Foi nesse caldeirão que
se forjou a estratégia: o populismo como ferramenta para a grande greve de
1979. Pariu frutos: em 1980, nasceu a disputa pelo Sinergia; em 1981, o
Congresso da Classe Trabalhadora; em 1982, a eleição livre que consagrou José
Ivaldo de Brito Ferreira como o mais votado da história local. Neste mesmo ano
foi eleito Evandro Paiva, o primeiro vereador do Partido dos Trabalhadores no
Nordeste brasileiro.
Os anos seguintes foram de construção. A UBES (União
Brasileira dos Estudantes Secundaristas) foi reconstruída em 1983, a CUT (Central
Única dos Trabalhadores) nasceu. Em 1984, Paulo Afonso ecoou com um dos maiores
comícios pelas "Diretas Já". Com a abertura política em 1985, a
cidade fez história novamente, elegendo Zé Ivaldo, então o prefeito mais jovem
do Brasil pelo MDB. Seu governo inovou: inaugurou o "governo
participativo", uma experiência pioneira antes mesmo de o PT ter vitórias
eleitorais sólidas. Reuniões na "Prefeitura Velha" reuniam
associações e líderes comunitários. Zé Ivaldo priorizou a cultura popular, não
a indústria cultural, plantando sementes de identidade local. Paulo Afonso
tornou-se um "farol", uma referência de esquerda vibrante no Nordeste,
citada até no Sul do país.
Mas o destino reservava uma curva. O ano de 1988 marcou um
"trauma coletivo", um "acidente de percurso" profundo. A
derrota eleitoral naquele ano não foi um simples revés. Foi uma operação
cirúrgica das elites unidas, como o Gilberto Santana testemunhou. A CHESF,
outrora palco de lutas, forneceu palanques e estrutura para os adversários. A
esquerda, fragilizada pela divisão entre as candidaturas de Lina Ester e
Francisca Siebert, e uma tentativa tardia de unidade com Gil do Castro, não
resistiu. A prioridade da direita baiana era clara: apagar o "farol"
de Paulo Afonso. "Eu não consigo ainda digerir aquela derrota",
confessa, pois foi "dialética, estratégica". Representou o fim de uma
era de hegemonia popular.
O que fica? "Nós não temos nada no bolso", diz,
metaforizando a falta de poder material hoje. Mas o legado é imenso:
"bolso cheio de papel" (documentos, memórias) e "empolgado"
diz que aquela geração foram "estrelinhas" que iluminaram o caminho,
formaram movimentos sociais, ajudaram a construir sindicatos. "Essa cidade
é o que é... graças a essa geração", proclamou, exigindo justiça
histórica. E é desse reconhecimento que brota o apelo urgente: participar
ativamente do PED 2025 no PT, eleger Renata em Paulo Afonso (Presidenta do PT
local), Tássio (presidente estadual do PT). O PT precisa, clamou, "se
reconectar com as bases", sair do "institucional", voltar a
construir movimento social, "fazer lutas". Precisa resgatar a
"perspectiva revolucionária, a utopia, o direito de sonhar",
organizar as mulheres, o movimento negro, antirracista, LGBT. "O PT
precisa ser um partido vivo" além das eleições, disputando hegemonia na
comunicação e no dia a dia.
"Já fomos fogo, hoje somos brasas." A metáfora
final do orador queima com verdade. A chama que transformou uma cidade partida
pelo esgoto e pela segregação com um muro que separava a sociedade literalmente,
que enfrentou coronéis e batalhões de choque, que ergueu governos
participativos e foi farol de esperança, não se apagou. Reduziu-se a brasas sob
as cinzas do tempo e das derrotas. Mas brasas guardam calor. O discurso é mais
que memória: é um chamado ao sopro. Soprar as brasas da organização, da utopia,
da coragem coletiva que um dia pariu um Paulo Afonso mais justo. A pergunta que
fica ecoando no auditório que um dia foi o "centro de convenções" da
resistência, é: quem se juntará para soprar? A história, afinal, não é só o que
foi. É o que decidimos reacender.
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