Oposição tática, pensamento 1 (Por Fernando Neto)

Fernando Neto

Precisamos de inteligência, comando e direção tática. O período à frente trabalhará a favor de ambos os lados. Tomemos a frente e as rédeas. Por hora ainda recuados, com a conjuntura apontada em nossa direção favoravelmente, mas sem ganhos concretos. A sociedade ainda se comporta complacente com o curto prazo de mandato de Bolsonaro que, apesar de perder popularidade, mantém apoio popular e de massa incontestável e não perderá mesmo com suas farolas. A “cortina de fumaças” ainda confunde a imprensa, o eleitor e as redes sociais, que perdem tempo e força debatendo assuntos aleatórios e por vezes banais, impressos pelo conteúdo disparado por um aloprado ou outro do Governo. De concreto temos o entorno de Bolsonaro e seus pontos mais frágeis de comando e organização de governo, aí sim precisamos atacar.



Por hora, não o próprio Bolsonaro, até por não termos força parlamentar e de rua suficientes que acumulem em capitulação de toda a chapa eleita. Derrubar Jair Bolsonaro e cristalizar Mourão é um erro por vários motivos. O primeiro deles pela dúvida se este reflete em seus pensamentos a tese doutrinária de cumprimento da força para equilíbrio social – o próprio já defendeu tese próxima apresentada em palestra na Maçonaria Brasil – e se cumpridas suas previsões, retomaremos um período obscuro de uma parte importante da nossa história que sucumbiu o país em atrasos e crimes contra a sociedade em geral. Será por essa via e não por um oportunista aventureiro que não influência o conteúdo interno das forças armadas. A disputa de opiniões e de poder dentro do Governo é notória e as principais figuras por parte das forças armadas que simbolizam a sútil arte de Alfred Mahan, Generais Heleno e Mourão, carregam em seu DNA a disputa Geisel x Frota. Ambos já eram do exército naquele período e cumpriam papel menor, porém envolvidos diretamente nas disputas de comando e de poder dos oficiais da época, cada um reflexo e reprodutor de uma linha de pensamento à época. O ex-comandante do Exército Brasileiro, General Enzo Peri, e seu sucessor, General Vilas Boas, ambos cumprem ou cumpriram papel distinto à frente do comando. General Enzo Peri disciplinado aos costumes constitucionais e menos intervencionista na agenda política nacional, General Vilas Boas notório por suas declarações e opiniões publicadas, produzindo interferência indireta no cotidiano político nacional. O atual General, Edson Pujol, carrega perfil semelhante de Enzo Peri e outros, mas não sabemos suas impressões e sua decisão frente uma cisão social ou política, produzida e em curso, não podemos cometer equívocos. Mesmo em disputa de opinião interna não existe e não existirá conflitos públicos ou exposições por parte destes senhores. Apesar de haverem figuras nacionalistas, são limitados por pactos e códigos tácitos de conduta interno.


Mourão não pode ser tratado como um Vice Presidente fraco, assumindo uma presidência fragilizada. Não sabemos como se comportaria ou comportará em tal situação e primordialmente se teremos força para combatê-lo. O caminho de oposição ao atual Governo não passa, neste momento, de atacar diretamente Bolsonaro ou o núcleo militar. Não estamos em situação de normalidade política e social. É preciso acumular força real, política e social, imprimindo nas ruas o descontentamento geral para ter eficácia e ressonância nossas ações, antes disso, a sana por controle de poder e usurpação do Estado garantirá a manutenção do “status quo” ou a mudança de controle para algo bem pior do que o descontrole emocional do senhor Bolsonaro. Retomar o apoio popular, acumular força social e política passam por desestabilizar o Governo em outras frentes, atacando suas fragilidades e expondo suas incoerências. O efeito das reformas se dará no cotidiano dos cidadãos e isso não temos como influenciar, porém precisamos manter os trabalhadores e trabalhadoras sob alerta.




Fernando Neto

Ex-Secretário de Estado, GDF.

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