Lula, o analfabeto que mudou o Brasil. (Por Bruno Ribeiro)

Desde a adolescência ouço dizer que Lula é "analfabeto". A mesma ladainha desde 1989. Mas senta aqui que eu vou contar uma história rápida.

No fim da década de 1990, me iniciando no ofício de repórter, entrevistei Lula na Fundação Perseu Abramo, em São Paulo. Desse encontro guardo uma lembrança muito viva: a de Lula segurando um livro - "Raízes do Brasil", de Sérgio Buarque de Holanda.

Conversamos rapidamente sobre a obra. Eu acabara de concluir a leitura de "O Povo Brasileiro", de Darcy Ribeiro, e Lula falou um pouco sobre a conexão e as diferenças entre as duas teorias sociológicas.

Pena que o nosso tempo era curto e não pude dar sequência ao papo. Hoje me arrependo de não ter insistido e levado a conversa para esse lado. Porque nunca ninguém lhe perguntou sobre sua relação com a leitura, seus autores preferidos, os livros que marcaram sua vida.

Não que ler livros seja indicativo de superioridade ou de capacidade intelectual. Rejeito essa visão elitista depositada no conhecimento formal e combato a ideia preconceituosa de que, para ser "alguém na vida", ou exercer um cargo de grande responsabilidade, é preciso necessariamente ter um diploma de curso superior. Como se ter um diploma, além do mais, fizesse de qualquer pessoa um intelectual.

Lula não é um intelectual, mas também não é o analfabeto que querem que seja. É um homem de rara inteligência, dessas improváveis, que florescem a cada cem anos no Brasil.

Mas o que quero dizer com isso é que as pessoas que acusam Lula de "analfabeto" são, elas mesmas, poços de ignorância.

Todas as pessoas que conheço e que dizem que "Lula nunca leu um livro na vida" são péssimas leitoras ou analfabetas funcionais, incapazes de interpretar corretamente um texto.

Por isso não me admira que os tipos que acusam Lula de ser "analfabeto" também o acusam de ser "bêbado". E estes hipócritas são os maiores alcoólatras que conheci na vida.

Feito aqueles velhos herdeiros, encharcados de uísque, que passam as tardes no Cenarinho (a citação do restaurante é ilustrativa, pode-se substitui-la por outra de sua preferência), com as bocas-moles de tanta bebida e os dedos sujos apontados para quem consideram ser seus subalternos.

Lula, para essa gente, é um subalterno. E a um subalterno, é claro, resta apenas o direito de ser burro e cachaceiro.

O comentário desse autor de novelas da Rede Globo sobre Lula é, em suma, o retrato fiel de uma certa elite que faz de si uma imagem que em nada condiz com a realidade. Pensa ser culta, mas é iletrada. Pensa ser sóbria, mas é viciada. Pensa que carrega o país nas costas, mas é escravagista. Pensa ser moderna, mas ainda não saiu da Casa Grande.

Por Bruno Ribeiro.

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