Bahia amplia debate sobre a Década dos Oceanos


“Catalisar soluções transformadoras, com base na ciência oceânica, necessárias para avançar o desenvolvimento sustentável, conectando pessoas e os oceanos”. Com essa missão, apresentada pela Organização das Nações Unidas (ONU) para a Década das Nações Unidas da Ciência Oceânica para o Desenvolvimento Sustentável (2020-2030), a Ong Rede Viva, Mar Vivo (Redemar), com o apoio da Secretaria do Meio Ambiente (Sema), iniciou as apresentações do Webinário Década dos Oceanos, nesta sexta-feira (16).

“Cabe a nós, gestores públicos e tomadores de decisão, ampliar o debate e a busca por conhecimento científico que subsidiem as nossas ações e políticas públicas em defesa do Meio Ambiente. A Sema, junto com o Inema, têm ampliado essas discussões e proporcionado o diálogo junto à sociedade civil organizada. Assinamos essa semana um contrato que viabilizará a elaboração dos Inventários dos Gases de Efeito Estufa na Bahia, como política assertiva de conhecer e diagnosticar o problema para atuarmos de forma eficaz e inteligente; e passamos a integrar a Assembleia Geral da Rede Air Centre, uma organização colaborativa internacional que promove uma abordagem integrada do espaço, clima, oceano e energia no Atlântico. Estamos caminhando para colocar a Bahia no cenário internacional em defesa da nossa biodiversidade”, afirmou o secretário do Meio Ambiente, João Carlos Oliveira.

Para o presidente da Redemar, William Freitas, quando a rede está viva, o mar está vivo. “Essa parceria com agentes públicos, cientistas, e movimentos sociais nos propicia avançar na construção coletiva de uma mudança que gere resultados efetivos em defesa dos oceanos. Esta é a necessária reparação socioambiental da humanidade com os oceanos. Mas, também, uma oportunidade única e necessária de repararmos a exclusão dos povos do mar do debate em defesa dos oceanos”, avaliou William.

O Oficial de Meio Ambiente e Água da Unesco no Brasil, Glauco Kimura, primeiro palestrante da manhã, pontuou a necessidade em definir qual a ciência que precisamos para o oceano que queremos, missão apresentada pela ONU, que convoca agentes públicos e setor produtivo para uma ação integrada pela sustentabilidade.

“No mundo, apenas 1,7% dos orçamentos nacionais para pesquisa é direcionado para a ciência oceânica. Esse valor é ínfimo comparado à contribuição do oceano para economia global. Estudo da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, por exemplo, estimou que os setores da economia dos oceanos representaram, em 2015, 19% do PIB brasileiro. Precisamos aumentar a capacidade de gerar previsões baseadas em cenários, para que a comunidade científica possa trabalhar de forma integrada com os governos e tomadores de decisão, e possamos ter políticas eficientes e eficazes. É importante preencher essas lacunas entre a informação científica e a tomada de decisão no nível político.”, explicou Kimura.

O empreendedor social, Tião Santos, diretor e consultor de Sustentabilidade na 3Rs, deu sequência às atividades da manhã chamando a atenção para o papel fundamental dos catadores de materiais recicláveis para a preservação dos oceanos. Para ele, a reciclagem precisa ser uma responsabilidade compartilhada, e não adianta valorizá-la se não ressaltarmos o protagonista desta ação, o catador.

“A minha história de vida é igual à de milhões de brasileiros, que tiveram que se reinventar para sobreviver. Minha mãe se tornou catadora por questões econômicas, a partir do momento em que meu pai ficou desempregado e tornou-se alcoólatra. Sétimo, de oito filhos, eu segui seus passos. Mas, como neto de sindicalista, o fazer revolucionário corre em meu sangue, portanto, eu herdei essa bandeira de luta. No lixão de Gramacho, chegamos a atuar com 1700 catadores, que reciclavam 200 toneladas de material por dia, o equivalente à produção de lixo de uma cidade de 400 mil habitantes. Essa é a relevância dos catadores para o serviço ambiental”, destacou João.

O empreendedor social alerta ainda para a necessidade dos catadores serem remunerados por serviços ambientais prestados. “O pagamento por serviços prestados pelos catadores é uma reivindicação histórica. Eu não tenho que catar uma garrafa pet que tem rótulo, um CNPJ, de graça. Estamos estudando a melhor forma de cobrarmos por esse serviço público de manejo de resíduos sólidos urbanos, para que possamos atender às necessidades da categoria, que sobrevive do trabalho que é realizado em condições precárias e sem reconhecimento em todo o Brasil”, afirmou Tião, destacando ainda que 60% dos catadores são mulheres, chefes de família.

Na parte da tarde teve a palestra de Barbara Lage, bióloga, professora do Instituto do Mar da Universidade Federal de São Paulo e co-coordenadora do Maré de Ciência, um programa de difusão científica e engajamento que busca fortalecer e integrar ciência, políticas públicas e sociedade.“A marca do Maré de Ciência é a construção colaborativa. Entendemos que a ciência é de todos, construída com todos, para o benefício de todos e vivenciada em todos os espaços. Queremos gerar um compromisso na sociedade e uma transformação positiva no mundo”, pontuou.  Durante a sua apresentação, a professora destacou os diversos projetos desenvolvidos na Universidade no contexto da Agenda 2030 e dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, alinhado aos objetivos da Década dos Oceanos da ONU.

No final do evento on-line, o presidente da Redemar convidou a todos para fazerem parte de um Grupo de Trabalho que vai definir as diretrizes e estratégias para a construção de um Plano Estadual da Década dos Oceanos.

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