Uma novidade do governo Bolsonaro em relação aos governos passados é que ele está pouco se lixando na conquista do "centro", aquele mínimo denominador comum que sustenta os governos de coalizão. Esta era uma espécie de lei de bronze da Nova República: pode fazer discurso voltado para sua base social mais concentrada durante a eleição, mas quando chegar no governo tudo é negociado, inclusive com a "grande imprensa" cumprindo papel protagonista nisto. Bolsonaro simplesmente ignorou isto, em uma aposta arriscada mas coerente com sua "carreira".
Isto gera bizarrices inesperadas, como a inclusão de academias de musculação nos "serviços essenciais" para agradar empresário pilantra que o apoiou ou dar importância para temas secundários ou irrelevantes, como radares e multas no trânsito. A matriz deste comportamento é o foco único no conjunto mais próximo de seu grupo: a família, os dublês de jornalistas atuando nas redes, os inflluencers, os empresários mais toscos e anti-sociais, cujo símbolo maior é o tal véio da Havan.
Sua política inteira é feita pra agradar seus núcleos mais duros. Com isso vem conseguindo manter seu ótimo/regular nas pesquisas na mesma faixa de 33%. Mais impressionante que a subida esperada de sua rejeição -- o que deve ser comemorado, claro -- é a persistência fiel de seus apoiadores.
Enquanto mantiver um apoio nesta faixa, será muito difícil pensar em impeachment como tarefa imediata. A Dilma teve que cair para algo próximo de 10%, em um contexto de gigantescas manifestações de oposição, o que é algo inviável para agora devido ao vírus.
Se a intenção é derrubar pra valer o Bolsonaro, para além da difícil tarefa de articular uma oposição mais consistente e com mais conexão com o povo, o que passa pelo foco em ações de solidariedade econômica e sanitária, é imprescindível visar as as brechas no bloco social que compõe a unidade que sustenta socialmente o governo.
Devemos explorar, por exemplo, o fato de Paulo Guedes só se importar com grandes empresas e não com o micro e pequeno proprietário. Martelar no ouvido do produtor rural que Bolsonaro ameaça nossas exportações de produtos da terra por ter animosidade com a China. Precisamos ter uma política de comunicação muito mais ousada do que a atual -- que, em geral, é amadora, por parte da esquerda.
Por Diogo Fagundes.
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