O reconhecimento de áreas ambientalmente adequadas à
sobrevivência e reprodução de espécies endêmicas, raras e ameaçadas de extinção
é fundamental para a ampliação do conhecimento sobre a história natural desses
taxons, podendo ter implicações sobre a conservação da biodiversidade. Nesse
contexto, o Núcleo de Ecologia e Monitoramento Ambiental (NEMA) da Universidade
Federal do Vale do São Francisco (UNIVASF) tem promovido estudos voltados à
avaliação da distribuição geográfica dessas espécies da Caatinga. Os principais
achados de um desses estudos foram publicados recentemente na revista Oecologia
Australis sobre a espécie Anamaria heterophyll.
Intitulado “Modeling the Potencial Distribuition of Anamaria
heterophylla (Giul. & V.C.Souza) V.C.Souza
(Plantaginaceae) in the Caatinga", o artigo avalia as condições
ambientais adequadas para a sobrevivência de A. heterophylla na Caatinga e
indica habitats com condições ambientais semelhantes aos dos locais de
ocorrência conhecidos para a espécie. Além disso, prospecta Áreas Protegidas -
APs (Protected Areas) e Áreas Prioritárias para Conservação da Caatinga - PACCS
(Priority Areas for the Conservation of the Caatinga) que apresentam condições
ambientais favoráveis para a sua ocorrência, mesmo que não haja registro
confirmado.
O estudo é de autoria dos biólogos Renato Garcia Rodrigues
(coordenador do NEMA), Edson Gomes de Moura-Júnior, Erica da Silva Nascimento
Freitas e Fellipe Alves Ozorio do Nascimento. Durante as pesquisas, foram
coletados dados de ocorrência da espécie e obtidas camadas (formato raster) de
dezenas de variáveis ambientais, disponíveis em plataformas virtuais. A partir
da otimização desses dados com as camadas ambientais, utilizando-se de
ferramentas computacionais, os autores obtiveram o modelo de distribuição
geográfica potencial da espécie.
Conforme o modelo computado, foi indicado que a espécie
ocorre em ambientes aquáticos efêmeros (principalmente em lagoas intermitentes
do semiárido) e ecologicamente vulneráveis e
ainda apresenta ajuste para a sobrevivência em ambientes com alta aridez
e poucas chuvas. O modelo de distribuição indicou três manchas com alto índice
de adequação ambiental para a espécie: no oeste do estado do Ceará; entre o
norte da Bahia e oeste do estado de Pernambuco; e entre a região central dos
estados do Rio Grande Norte e Paraíba. Essas manchas contemplaram nove áreas de
proteção da rede de PAs e PACCs.
De acordo com os autores, essas descobertas orientam
inicialmente os esforços de coleta para a espécie (visto que, até o presente
momento, há apenas 26 registros conhecidos para o taxon). Posteriormente
poderão, em uma perspectiva sistemática, apoiar ações relacionadas à seleção de
áreas importantes para a conservação da biodiversidade na Caatinga ou
valorização daquelas áreas que já existem.
“Tomadas de decisões sobre valoração e seleção dessas áreas
requer avaliações que envolvam geoprocessamento, ecologia da paisagem e
biogeografia de tantas espécies quanto possível. Com isso, é importante a
necessidade de continuidade das pesquisas sobre distribuição geográfica
potencial de espécies raras, endêmicas e ameaçadas de extinção na Caatinga”,
enfatiza o pesquisador do NEMA e um dos autores, Edson Moura.
Por: Karen Lima - Jornalista.
Fotos: José Alves Siqueira Filho. Herbário Vale do São
Francisco (HVASF).
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