Sobre o Pré-sal e a nossa vocação agrícola:. (Por Eduardo Migowski)

A Shell venceu o leilão da segunda e terceira rodada no Pré-sal. O CEO da companhia classificou o negócio como "excelente". 

A Petroleira, que é uma empresa anglo-holandesa, vai desembolsar pouco mais de seis bilhões. O governo brasileiro imaginava arrecadar sete bilhões com o leilão. Mesmo assim, Temer não se intimidou com os números e, numa espécie de revisionismo matemático (que deixaria Leandro Narloch orgulhoso), afirmou que as expectativas foram superadas. 

Vejamos quem está com a razão. A MP 795, que está sendo votada, abre caminho para o governo renunciar 1 trilhão de reais apenas em isenções ficais. (Em benefício das empresas estrangeiras que estão vindo participar do leilão dos poços do pré-sal). Vou repetir: 1 TRILHÃO. Para termos uma ideia, a Copa do Mundo, que iniciou o movimento "não vai ter copa", que pedia hospitais e escolas padrão FIFA, custou cerca de 25 bilhões. Menos da metade do valor pago para livrar o presidente Temer das denuncias de corrupção. 

1 trilhão, é importante avisar, é a mesma quantia que o governo Dilma pretendia destinar para saúde e educação, como parte dos lucros do pré-sal. Antes que alguém apareça nos comentários me chamando de petista, saiba que isso é um fato, não há juízo de valor. Basta conferir. 

 O governo tbm abriu mão da política de conteúdo nacional. Os empregos que seriam gerados serão exportados. (De 1.500 estimados inicialmente, agora serão apenas 100. Os números são da própria Fiesp). 

Esse é o saldo. Prejuízo de trilhões, menos saúde, menos empregos e menos educação. De parte da população, ruas vazias, panelas guardadas e muita apreensão. Não com o futuro do país, mas com a dúvida se a nova novela da globo será tão boa quanto a última. Ninguém mais quer nada padrão FIFA. Política voltou a ser assunto chato, melhor não comentar.          

Enquanto isso, o Governo brasileiro comemora.  A Shell festeja. E nós nos calamos. Pq? Essa pergunta é difícil de responder. Gostaria de entender. Saímos às ruas por um país melhor, fomos assaltados e nos resignamos. Confesso que sou incapaz de explicar tamanha contradição.  

Diziam os antigos que o ouro das Minas Gerais deixou buracos no Brasil, igrejas em Portugal e fábricas na Inglaterra. Mas era na época em que éramos colonia. Hoje somos uma nação soberana. Será? Quando o petróleo acabar, o que ficará? Se serve de consolo, o pré-sal não deixará buracos, apenas poluição. Os lucros poderão estimular pesquisas científicas, precismos de novas fontes de energia. Fantástico! Mas não será no Brasil. Mais uma vez seremos escada. Importadores de matérias primas. 

Deve ser a nossa vocação agrícola, como afirmou um antigo ministro da fazenda. Pouco importa, voltamos a ser o que sempre fomos, uma nação colonizada. 

O presidente da Shell, eufórico com o resultado, afirmou: "O Pré-sal é onde todo mundo quer estar". Errado. Todos querem estar no pré-sal, mas ele está no Brasil, o único país que não quer explorá-lo. Deixemos então para os europeus, chineses e americanos. Afinal, em algum museu pode ter algum homem nu. Precisamos estar alertas. A esquerda está sempre tramando. Não temos tempo que nos preocuparmos com assuntos menores como o futuro do país. 

Sempre fomos colônia, pq agora seria diferente? Não nos iludamos. Lampedusa dizia que as vezes é preciso que tudo mude para que as coisas permaneçam como sempre foram.  Nesse caso, é preciso impedir qualquer mudança para sermos o que sempre formos: colonia agrícola. Explorados, mas orgulhosos. Feliz de nossa vocação. 

E que fique o aviso: se algum diaa alguém quiser mudar esse destino, muito cuidado. O gigante pode acordar. Não se aventure, estamos deitados em berço esplêndido e queremos permanecer assim. Dormindo, mas sonhando. Sempre sonhando em um dia acordar. 

obs: ainda não foi dessa vez que o Arthur Do Val conquistou o seu poço de petróleo para explorar. Mas continue persistindo, basta ter mérito, um dia vc consegue.  

Por Eduardo Migowski.

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