O ano era o de 1979 e eu era um dos coordenadores do Grupo
Jovem Reticências, ligado à Igreja Católica em Paulo Afonso na Bahia. Naquele
dia, sábado à noite, nós estávamos na Igreja de São Francisco participando de
uma vigília de oração. Durante a madrugada chegaram três rapazes, um deles eu
iria saber depois, era Zé Ivaldo. Hoje é um amigo/irmão. Ele tinha ido lá
convocar os jovens para dar apoio a Greve dos Eletricitários da Chesf –
Companhia Hidrelétrica do São Francisco. Eu me engajei na luta no dia seguinte.
E onde danado estava você nessa hora?
Da reunião no dia seguinte, com dezenas de jovens, surgiu um
grupo que criou a Feira Cultural de Paulo Afonso. Ela aconteceu vários anos
seguidos, feitas por nós. Foi aí que comecei a ter um maior contato com a
Música Popular Brasileira e com os livros. Lembro de ter lido durante umas das
edições os livros “Eu, Cristiane F Drogada e Prostituída” escrito em forma de
autobiografia e “Subterrâneos da Liberdade” de Jorge Amado. Era o contato com a
literatura de qualidade que me fazia compreender o mundo ao meu redor. Mas
aqueles encontros culturais serviam para nos manter unidos na luta por
liberdade no Brasil. E você, onde danado estava naqueles dias?
Veio à campanha contra a Embasa – Empresa Baiana de Água e
Saneamento. Nós batemos a cidade, rua por rua, a pé. Pegando a assinatura dos
moradores para um abaixo-assinado que pedia água tratada para todos. Já que em
algumas casas, no Bairro “Tapera”, hoje Centenário, a água vinha acompanhada de
cabelos e todos os tipos de detritos imundos. Muitas das noites naqueles dias
foram em claro, discutindo a melhor estratégia para alcançarmos o objetivo. E
tu, tava onde mesmo naqueles dias?
Um dia, à noite, quatro jovens, Zé Ivaldo, Zé Ivandro,
Nivaldo Lopes e eu, estávamos na casa de Dona Ivete (mãe dos Zés), prontos para
lançar a ideia da candidatura a prefeito de um jovem. Nos esperando, estava um
casal e mais uma outra pessoa, que por mais que eu tente me lembrar quem eram
eles, não consigo. Eu gostaria de fazer justiça a eles. Foi a essas três
pessoas que foi plantada a semente que no ano seguinte brotou e deu ao Brasil o
prefeito mais jovem daquela época.
Foi a campanha mais linda e que mais nos deu trabalho até
hoje. Lembro de Marcelo Cordeiro, então presidente do PMDB. Ele conseguiu
trazer para Paulo Afonso o Dr. Ulisses Guimarães para um comício de apoio. Era
meio dia quando chegamos à praça e o sol estava tão quente que nós pensamos não
conseguir segurar aquela multidão. A impressão era de que a cidade tinha parado
para ver um dos maiores políticos naqueles dias. Foi dessa época também que
surgiu o termo “carreata”. Criado aqui em Paulo Afonso por nós e hoje tão
presente na imprensa.

Zé Ivaldo assumiu a prefeitura em 1986. Fez o Governo que
mudaria para sempre a história política e administrativa da cidade. Foi com
aqueles jovens que se criou a campanha “Zero” – É quanto a Chesf paga de
imposto. Era a luta para que fosse feito justiça social pela empresa, que se
beneficiava da área inundada e não revertia nada disso para a sociedade. Foi um
projeto de Zé Ivaldo que foi apresentado e defendido no congresso nacional para
que a empresa viesse a pagar os Royaltys que hoje paga. De 1986 a 1988,
enquanto aqueles jovens administravam a cidade com dificuldades no orçamento e
lutavam para que isso fosse mudado, onde danado você estava?

Eu continuo no Partido dos Trabalhadores. É nele que eu me
sinto bem! É nele onde a opinião do mais importante membro que seja, vale tanto
quanto a do filiado que se opõe a qualquer ideia colocada por essa pessoa. Lá
não tem cacique. Os exemplos de quem tentaram impor algo são vários, e muitos
deles foram derrotados pelos filiados.
Estar no Partido dos Trabalhadores é para muitos. Muitos que
possam entender como funciona a democracia interna. No Partido não há espaço
para os que querem se utilizar da legenda para obter favores pessoais ou se
locupletar nas entranhas do poder. Nós amadurecemos na luta do dia-a-dia nas
Ruas, enfrentando a ditadura, fazendo escolhas entre continuar nossos estudos
ou lutar por uma sociedade justa, e ficamos com a segunda opção. É no Partido
dos Trabalhadores que alguns daqueles que começaram juntos em 1999 continuam a
militar. Eu e muitos estivemos e continuamos militando, agora com outras
ferramentas, para que a sociedade seja justa para a maioria dos Brasileiros.
Disso não arredamos um milímetro.
E onda danado estava você na hora em que tudo isso aconteceu?
De que lado você estava? De que lado você está?
*esse texto foi publicado aqui no Blog em 16.12.2011, mas está tão atual que mereceu ser republicado com algumas correções.
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