Vejo os videoclipes com mansões alugadas por hora, garrafas de uísque e mulheres que parecem moldadas pela mesma fábrica de ilusões. Às letras? Repetem sempre as mesmas três dores e os mesmos quatro vícios: bebida, chifre, carrão e fazenda. É um distúrbio emocional onde ninguém ama de verdade, só se afoga em ressaca e ego.
Não estou dizendo que toda música nova é ruim. O novo é
necessário. Mas o raso cansa. A gente também precisa de profundidade pra
respirar, como quem mergulha lá no fundo e precisa voltar à superfície.
Às vezes penso nos compositores de hoje como operários em
uma linha de montagem. Produzem hits como quem monta peças de plástico:
rápidos, descartáveis, todos com a mesma fórmula. Falta alma, falta verdade,
falta beleza. Sinto saudade de quando a música me fazia pensar. De quando uma
frase bem escrita me derrubava como um soco no estômago. De quando o silêncio
entre dois acordes dizia mais do que um refrão repetido mil vezes.
Talvez ainda existam canções assim. Escondidas em algum
canto da internet. Tímidas, esperando por ouvidos desocupados e dispostos.
Talvez a música não tenha acabado. Talvez ela só esteja descansando pra voltar
mais viva.
Por: Jorge Papapá.
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