Amor, tu tá fazendo o quê?

Diferente do que possa parecer, a palavra “amor” quando aparece no início da frase, dita ao telefone por ela, ou elas, não reflete necessariamente algum sentimento de amor, e sim uma maneira de nos induzir a prestar algum serviço. Isto poderia ser entendido por ela como uma forma agressiva de constatação. Mas, tenha a certeza, não é! É que após anos de namoro, você começa a entender a dialética da sua amada. E o que antes era prazer, para você, começa a incomodar. Você deixa de ser o parceiro, e vai se tornando um prestador de serviços diário não remunerado.

Você está no bar, bebendo uma cerveja estupidamente gelada com a sua turma. Evento programado com bastante antecedência. E parece que os afazeres dela acontecem sempre em momentos como estes. Não é incomum seu telefone tocar e do outro lado vir um pedido para busca-la na casa dela para levar ao supermercado, ao cabeleireiro, ao trabalho, ao médico, a alguma loja para comprar algo, ou não. A certeza é que seu telefone irá tocar e seu programa estará seriamente comprometido. E invariavelmente, você é motivo de piada no grupo por ser “um dominado”.

Você também sabe que, ao chegar ao local em que ela pediu para tu ir buscar, ela nunca vai estar pronta. Se é na residência, falta pentear o cabelo, colocar a blusa, vestir a calça, pôr o tênis. Desculpas não faltam. Em qualquer outra situação e local diferentes, ela arruma uma desculpa esfarrapada. Nas primeiras vezes você sorri pelo desleixo dela. Mas depois de três quatro anos, e sempre com as mesmas desculpas e pedidos, você começa a perder a paciência. O que era motivo de sorriso começa a encher a paciência do pobre homem, que corre de um lado para o outro para sempre estar à disposição.

- Me leva ali?

Parece até que “ali” tem endereço variado, porque serve para todas as coisas. Vai de hospital ao encontro com as amigas. E você fica “ali” esperando o tempo dela. Que quando retorna, diz:

- Demorei amor?

Você dá um olhar, daqueles de lado, sem direção. Do tipo, olha mais não olha. Respira fundo e solta o ar dos pulmões como se fosse a sua última respiração do dia. E ela:

- Também, tu já vai reclamar. Por isso que não gosto de pedir nada a tu. Essa é a última vez que peço algo.

Você, por dentro, comemora. Mas sabe que amanhã, tudo vai ser igual à hoje. Então, nada de se enganar com ela, quando a frase começar com “Amor”.

É tudo por amor!


Dimas Roque.

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