O jogo da antipolítica foi iniciado há tempos. Dura há pelo
menos 12 anos um trabalho diuturno de desqualificação da classe política:
“todos os políticos são sujos e corruptos; só pensam em levar vantagem em tudo;
não defendem os interesses do povo, nem do país”). Consequentemente, ”a prática
política é algo também sórdido, condenável em todos os sentidos. Nós estaríamos
bem melhor sem a política”. Como se pode perceber, a lógica consiste
simplesmente em desqualificar os políticos e o jogo da política. Trata-se, a
Política, de algo sujo, prejudicial ao Brasil. “Eles” vêm roubando
sistematicamente a Petrobrás. As licitações somente servem para atender seus
interesses escusos. Portanto, há que ser desencadeada uma operação de salvação
– essa a palavra mágica – para livrar o país, para sempre, dessa corrupção
desenfreada, incontrolável, que nos arruina.
Repetido como um mantra e de forma sistemática pelos órgãos de
comunicação, esse discurso tolo, primário, tem, no entanto, a capacidade de
penetrar na alma e na consciência de indivíduos sensíveis, sobretudo das
camadas médias da população brasileira. Crédula e crente, por absoluta
necessidade ( – eles pensam por nós…). Assim, com sua ótica simplista,
simplória, passa a ver o mundo – cada vez mais complexo, belo e cheio de
desafios – como algo a ser enquadrado nos rígidos moldes da ideologia
neoliberal. Ultrapassada, estúpida e sem nenhum futuro. E repetem, sem sequer
ruborizar, os mais tolos chavões criados pelos “jornalistas”, (a voz do dono),
sempre obedientes ao comando dos seus patrões.
Criando uma cidadania de tolos obedientes, induzidos a assumir
atitudes e crenças neofascistas, convenientemente esquecidos do estrago que os
regimes totalitários fizeram nos países que acreditaram em suas “verdades”.
Tornou-se, então, permitido e de bom tom repetir estultices nas marchas de
domingo, coloridas de amarelo: “escola sem partido/basta de Paulo Freire/vão
para Cuba” e outras sandices criadas nos laboratórios midiáticos. Preparando,
para um futuro bem próximo, uma nação de bobinhos, facilmente manipuláveis.
Mas há um detalhe sórdido nessa campanha: o seu direcionamento
prioritário para o campo progressista, buscando criminalizar, seletivamente,
seus integrantes. Com isso, pretendem “neutralizar” sua militância, afastando-a
de qualquer veleidade de Poder, garantindo o espaço para o exercício inconteste
da Elite, num jogo que, como se sabe, não foi feito para amadores.
Dessa forma sorrateira, conseguiram “cassar” o voto de mais de
50 milhões de brasileiros, ao afastar do alto comando do país, de forma
ilegítima, fraudulenta a presidente reeleita, em 2014, por decisão soberana da
maioria inconteste dos eleitores, para mais um mandato.
Isso foi feito de tal forma que gerou um estado de permanente
perplexidade no campo democrático. Por longas semanas incapaz de organizar
reações consistentes ao esbulho político eleitoral da Elite. As portas do
Congresso Nacional e do Poder Executivo se fecharam, tornando-os insensíveis a
qualquer tipo de negociação política. Estava, assim, instalado um novo período
autoritário no Brasil. A ditadura dos medíocres. Da antipolítica. Uma ditadura
envergonhada. Apoiada em maiorias obtidas de forma discutível no Congresso
Nacional. Porém autoritária, como todos os regimes de exceção. E pior, disposta
a entregar sem nenhum pudor as riquezas e a soberania do país aos seus patrões
alienígenas.
“Eis senão quando” um inesperado grupo de atores políticos
assume a vanguarda, ainda que transitória, da luta pelo retorno à Democracia e
à legítima participação do Povo nas decisões que afetam os seus verdadeiros
interesses.
• UMA GERAÇÃO ESPONTÂNEA
( – Nossa ocupação não é apenas pela reforma do ensino. Queremos
mudar, sim, esse governo usurpador e fraudulento!)
Os estudantes (sempre eles! em atitude de repúdio às decisões do
governo espúrio que tomou de assalto o poder), para demonstrar seu
inconformismo e sua revolta, assumindo todos os riscos, decidiram, iniciar num
movimento de legítima rebeldia, ocupar suas escolas. Entendendo que são espaços
públicos destinados à formação de cidadãos livres e conscientes. Não apenas de
robôs obedientes aos ditames da Elite e da ideologia neoliberal.
Num movimento pacífico de ocupação, estão a mostrar aos adultos,
ainda atônitos e perplexos, uma forma alternativa de fazer política e dessa
forma, colocando o governo Temer contra a parede. Ampliando seu legítimo espaço
de atuação consciente e cidadania, a juventude estudantil decidiu contestar um
governo que reconhece como frágil e ilegítimo. Obrigando-o a travar o
necessário diálogo político. Ensinando aos novos donos do poder que não se faz
reformas de tal profundidade, tão somente com a suspeitíssima votação em bloco
do Congresso Nacional. É fundamental o debate que envolva a maioria, senão a
totalidade da população, em plebiscitos e referendos.
Incapaz de estabelecer um diálogo franco e honesto com os jovens
estudantes, como seria natural, até mesmo essencial nas circunstâncias, o
governo Temer apela para algo que a cartilha neofascista recomenda fazer em
momentos de confronto político: criminalizar o movimento estudantil; atribuir
intenções ilegítimas e criminosas; ameaçar com processos judiciais os pais e/ou
responsáveis pelos alunos. Enfim, pronto a usar as velhas técnicas totalitárias
de intimidação dos jovens. Absolutamente incapaz de reconhecer a coerência e a
legitimidade das ações de uma juventude, que se sentindo ameaçada em seu
presente e em seu futuro pelas estranhas decisões de um governo sem voto e sem
apoio popular, demonstra claramente o seu inconformismo com tais decisões,
ilegítimas e espúrias em sua origem e em suas intenções.
Talvez seja difícil aos integrantes do atual governo, neófitos
na implantação de regimes ditatoriais, agora esquecidos da prática política,
perceber a real natureza do movimento de rebeldia estudantil. Vale, então
adiantar alguns esclarecimentos, para reflexão:
a)
O que o Movimento não é:
– coisa de estudantes
baderneiros e desocupados;
– caso de polícia;
– algo a ser reprimido
pela força, pela coação e pelo amedrontamento;
– protesto orientado por
partidos políticos;
– uma nova forma de
introduzir o tempo integral nas escolas.
b) O que é e o que
pretende o Movimento:
– é uma ação tática, de
natureza política, legítima e justa;
– objetivo: mostrar a discordância dos estudantes com o atual governo;
– alertar a população sobre a atual situação das escolas públicas;
– trazer ao livre debate a urgente necessidade de repensar/reinventar a Educação;
– exercer a Cidadania, um direito inerente à juventude;
– praticar a desobediência civil (“que sera tamem”).
– objetivo: mostrar a discordância dos estudantes com o atual governo;
– alertar a população sobre a atual situação das escolas públicas;
– trazer ao livre debate a urgente necessidade de repensar/reinventar a Educação;
– exercer a Cidadania, um direito inerente à juventude;
– praticar a desobediência civil (“que sera tamem”).
(*) Do Instituto Lampião
– Reflexões e Debates sobre a Conjuntura
(1) Música da trilha sonora do filme “O Homem de la Mancha” – Luther Vandross
(2) Verso da paródia da música “Tristeza” dos compositores Haroldo Lobo e Niltinho
(1) Música da trilha sonora do filme “O Homem de la Mancha” – Luther Vandross
(2) Verso da paródia da música “Tristeza” dos compositores Haroldo Lobo e Niltinho
Por Geniberto Paiva Campos.
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