Acaba de começar a semana e já
é segunda-feira, são 09h34m da manhã e ela me fala que no próximo sábado vai
haver uma festa no clube da cidade. Perceba que serão sete dias o que separa o
primeiro contato entre duas pessoas que se amam da data do tal evento. Porque
eu falo isto? Porque você perceberá ao longo desta narrativa a tortura que é
esperar esta extensa semana enquanto meu amor se prepara para mostrar para
todos a nova dança que aprendeu com as amigas no salão.
À noite ao chegar a casa dela sorrindo de felicidades, pois irei encontrar o meu amor novamente. Ela abre a porta e me dá um beijo carinhoso. Apaixonado como sempre digo.
– Eu te amo! Todas as vezes
que falo isto para ela é a mais pura verdade. Mas a sensibilidade feminina que
todos nós conhecemos nas mulheres, aparece nas belas palavras que vem daquela
boca maravilhosa.
– Tá lembrado da festa? Não
vá dá pra trás agora! Já marquei com minhas amigas e todas vão estar lá!
Ai você olha com cara de
quem não pode dar uma resposta à altura da provocação. Sim provocação. Ou você
pensa que a vontade não a de dar as costas e ir para casa descontar aquele sono
perdido no final de semana que passou?
Terça-feira no trabalho alguém grita.
– Telefone pra você? E eu
pergunto.
– Quem é?
O sorriso no rosto do colega
de trabalho denuncia quem está do outro lado da linha telefônica. Desloco-me
até a mesa onde está o aparelho e ao passar no meio da sala todos me olham com
aquele ar de “ta lascado”. Naquele momento você não consegue entende a reação
das pessoas, isto só vai acontecer quando toda essa história acabar. Se é que
acaba. Ao atender o chamado do meu amor me derreto todo em carinho. Você sabe
quem ama perde a consciência do que acontece ao seu redor.
– Oi amor, você está bem?
Estou com saudades de você, podemos almoçar juntos hoje?
A resposta vem logo em
seguida, mostrando que eu sou correspondido.
- Claro meu amor! E ela
emenda outra frase, mas bem poderia não ter feito. - Amor. Que lindo a voz dela
me chamando de amor.
– Que roupa você acha que
devo usar para irmos à festa?
O que? Lá vem ela novamente
com o mesmo assunto. A Festa!
– Querida você pode usar
qualquer coisa que mesmo assim ficara linda como sempre. Não fique preocupada
com isto eu gosto de você do jeito que você é. É besteira querer me agradar.
Você já sabe que gosto do seu jeitinho simples de ser.
Melhor seria não ter dito
isto.
– Mas é que minhas amigas
vão comprar uma roupa nova só para ir ao baile e eu não tenho uma roupa que
sirva para mim. Todas elas vão estar lindas e eu? Eu vou com aquela que fui ao
baile passado? O que vão dizer de mim? Que só tenho esta roupa!
O primeiro som de choro ecoa
pela linha telefônica. Sem graça, pois todos os colegas de trabalho já tinham
parado os seus afazeres e estavam me olhando com aquela cara de espanto. Viro
meu rosto para a parede, tentando diminuir o som da minha voz para que as
pessoas não ouvissem o que eu falava.
– Não chore amor, quando eu
sair daqui nós vamos almoçar e depois se houver tempo, ainda hoje, passamos em
uma loja e eu te compro um vestido novo. Nesta hora não sei se a palavra
“compro” serviu como remédio, o certo é que do outro lado da linha já não havia
mais ninguém a chorar e só ouço uma voz carinhosa me fazendo juras de amor.
Acho que foi nesta hora que me senti mais amado ainda e o meu amor por ela
ficou muito maior.
Na quarta-feira marquei de
me encontrar com ela. O vestido que adquirimos no dia anterior precisava de uns
ajustes. O corpo da minha amada é lindo, posso dizer a você que ele é perfeito.
Lá estava ela me esperando. O amor é belo. Ao me ver, ela vem correndo com seus
braços abertos e me dá um grande e forte abraço. Tentei me lembrar de outro que
ela tenha dado e não me lembro de um tão bom assim. Não adianta insistir, não
lembro. Ouço vozes ao redor. E estas eu conheço, são as amigas dela que também
vieram para dar palpite no vestido. Não vou me alongar aqui, pois a noite
estive na casa dela e ao ser recebido você já deve ter percebido qual foi à
frase que ouvi. Não lembra? Lembra sim. Não insista para que eu repita. Tá bom!
– Estou nervosa, acho que
esse baile vai ser o Máximo. Ham? Você queria o que? Que eu repetisse a mesma
frase? Não ia ter graça!
Chegou à quinta-feira. Pelo
jeito chega o domingo e parece que este sábado não vem. Ela acabou de me ligar
falando que a costureira tinha errado algo no figurino do vestido. Fiquei
pensando no que eu poderia ajudar e não cheguei a nenhuma conclusão. Trabalho
com eventos e não lembro ter feito qualquer curso de alfaiate ou de estilista
para dar minha opinião abalizada neste vestido. Mas, lá vou eu ao encontro da
minha amada. Avistei-a na entrada da loja onde tínhamos deixado o vestido.
Parecia-me bem e eu não imagina que o mundo estava para acabar naquele momento.
De longe ela parecia bem. Mas ao me ver chegando ela caiu em prantos. Tá
achando engraçado? Não? Imagine eu naquela situação em plena quinta-feira às
02h da tarde e em plena rua com alguém a chorar desesperadamente como se algo
de perverso lhe tivesse acontecido.
– O que está acontecendo meu
amor?
Eu sempre com carinho para
dar a ela.
- O meu vestido. A
costureira acabou com ele.
Pensei comigo “a mulher deve
ter cortado o dito cujo e jogado a nossa ida a festa no lixo”. Comecei a gostar
dessa costureira.
– Me fala o que realmente
aconteceu com o vestido!
O meu tom de voz quase
denuncia os meus pensamentos. Com seus olhos cheios de lagrimas e soluçando,
meu amor continua a falar.
– Aqui do lado esquerdo. Ela
deixou maior que o lado direito e agora vai ter que fazer tudo novamente.
Pensei e deveria só ter
pensado e não falado.
– Mas foi só isto... Mal
terminei o que queria dizer e ela.
– Você também está torcendo
contra. Quer que nada dê certo que é para não irmos à festa. Já tinha percebido
que era isto mesmo que você queria. Qual é o jogo que vai ter no sábado? Quer
sair com os amigos? O que está acontecendo? Quem é a outra?
Nesta hora, nesta hora é
melhor pensar duas vezes antes de falar o que realmente vem à cabeça. É nesta
hora que você tem que medir o tamanho do seu amor por aquela pessoa linda e
maravilhosa que você conheceu já faz oito anos. Pego ela pelo braço e vou ao
encontro da costureira e pergunto se tem jeito o vestido. A mulher acaba de me
informar que o que aconteceu foi que uma costura teria feito uma costura fora
do lugar e que enquanto estávamos na frente da loja ela própria já teria
concertado o erro da outra. Mais uma vez o sorriso volta aquele rosto lindo.
Vejo o vestido pela primeira vez no corpo de quem eu amo. Perfeito. Ela vai
chamar muito atenção na festa. Perai! Então se ela vai chamar a atenção de
todos isto inclui os marmanjos! Tem algo errado nisto tudo, estou enfeito
presente pra vagabundo! Comecei a mudar de opinião quanto a ir à festa.
Chegou à sexta-feira. Já
estou nervoso com essa bendita ocasião que não chega. Foi o único assunto entre
eu e meu amor durante toda a semana. Falei para todos do trabalho que hoje não
atendo telefone. Desliguei o celular. Tenho que produzir ou vou ser demitido da
empresa. À noite vou cedo para casa e caio na cama. Amanhã é o dia da festa e
nada pode dar errado. Ela estando feliz eu estarei feliz.
08h da manhã do sábado e já
tem alguém batendo na minha porta. Ouço uma voz feminina. É o meu amor. Acordar
esta hora com minha linda é maravilhoso. Ganhei o dia. Quando abro a porta
recebo um beijo. O amor é lindo.
– Passei por aqui para lhe
lembrar que você deve passar em casa às 21h. Vou estar pronta te esperando.
Acorda pra vida meu amor.
Que palavras maravilhosas
para serem ouvidas numa manhã de sábado e ainda com sono. Tenho a impressão que
este dia vai ser longo. São 13h e já com o celular ligado e carregado que é
para nada sair errado, recebo uma ligação dela.
– Amor tá lembrado da hora?
Respondo que sim.
– As meninas estão
perguntando se dá pra passarmos na casa delas para irmos juntos a festa? Paro
uns segundos e...
– Sim meu amor. Faremos como
você quiser.
19h e mais uma ligação. Já
estou com os nervos à flor da pele.
– Amor que horas você vem
mesmo?
– Na hora que você pediu! E
ela emenda.
- Que horas mesmo? Acho que
ela tá querendo me testar para saber se eu me lembro do combinado. Nesta ela
não vai me pegar.
– Às 21h querida. E ela.
– Ainda bem que não
esqueceu! Ufa!
20h30m e agora quem faz uma
ligação sou eu.
– Amor eu já estou saindo
daqui, você está pronta?
– Não querido, passe antes
na casa das meninas e depois você vem me buscar. Assim quando você chegar eu
vou estar prontinha para irmos à festa. Percebi que nesta festa vou ser só um
acessório e não estou gostando disso. Passei na casa das amigas e nenhuma das
três estava pronta ainda. Como não tinha aonde ir fui à casa do meu amor como
combinado durante toda a semana. Ao chegar toquei a campainha e quem vem me
receber? Ela, meu amor... Que ainda nem banho tomou, nada de cabelo pronto,
nada de estar vestida com aquele bendito vestido que me deu uma tremenda dor de
cabeça durante toda a semana. Com a voz em tom de desaprovação. Isto mesmo
imagine ai um tom ríspido, dos que você faz quando perde a paciência com o seu
amor. Foi desta forma que me dirigi a ela.
– O que aconteceu que você
ainda não está pronta? E ela.
– Você chegou cedo demais!
– Eu o que? Nesta hora,
novamente, o melhor que você deve fazer é pensar naquele livro de auto ajuda
vendido no camelô por R$ 1,99 e que você tem na cabeceira da sua cama e lê
todas as manhãs antes de sair para o trabalho. Ele agora lhe será de grande
ajuda. Não perca a cabeça, afinal em sua frente está à mulher que você quer
para toda a sua vida. Ou que vai fuder a sua vida.
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