Enquanto o calendário
eleitoral se afunila, com a aproximação de 7 de outubro de 2018, cresce em
torno das principais lideranças do Partido dos Trabalhadores (PT) e do seu
líder maior, Luiz Inácio Lula da Silva, uma pressão asfixiante: o que vocês vão
fazer?
Lula está preso há exato um
mês. Embora haja uma hipótese de habeas corpus, em julgamento marcado para o
próximo dia 10, os que pressionam o PT parecem não acreditar em Lula candidato
e muito menos livre. Jogam a responsabilidade para os petistas de indicar um
sucessor de Lula, com a desistência já em mantê-lo candidato.
As vozes que começam a eclodir
aqui e ali dizem que o PT deveria abençoar a candidatura de Ciro Gomes, como a
única saída para não deixar que os assaltantes do poder se legitimem pela via
democrática. Mas de qual Democracia estamos falando?
A primeira falha crucial nesse
argumento é não admitir que eleição sem Lula é fraude. Sim, é fraude. E não é
mimimi de petista, simplesmente é fraude. Se o candidato favorito dessa disputa
é excluído por um processo judicial duvidoso, com o único propósito de impedir
sua candidatura, cadê a Democracia?
A segunda falha gigantesca é
achar que os ideólogos desse triste momento vivido pelo país prepararam o
cenário para Ciro Gomes ser protagonista. É um pensamento bastante ingênuo,
convenhamos. Depois das doze tarefas hercúleas que jogaram no precipício o
orgulho brasileiro e a imagem interna e externa do país, falir as grandes
empresas, queimar nomes de peso do staff empresarial, estariam eles prontos a transmitir
docemente o comando da terra arrasada ao candidato egresso das urnas pela
vontade popular? Tem dó, né?
Quem deseja Ciro Gomes no
comando do Brasil? Os empresários que naufragaram com a crise? A classe média
que acordou mais cedo do sonho novelesco da Globo, nas manifestações verde e
amarela? Querem se redimir da História às custas do sacrifício de Lula e do PT?
Para isso, precisam fazer um esforço intelectual para responde que tipo de
Democracia eles acreditam ainda existir no Brasil. Aquela em que a República
instalada no Paraná decide quem pode ou quem não pode ser candidato? Aquela
Democracia que decidiu que a partir de agora qualquer juiz de primeira
instância pode abrir processo contra parlamentares, em um país em que o
judiciário se partidarizou, mas esqueceu de avisar à galera?
O mais estranho (entre muitas
outras coisas estranhas) é que Lula está preso por um apartamento que não é
dele e por uma reforma que não existiu. E mesmo depois da desmoralização do
processo de Sergio Moro e seus procuradores, Lula continua lá, preso da Silva.
Então meus caros, quem está na
berlinda é a Democracia que nós acreditamos, e não aquela modulada pelo
trinômio Globo/MPF/PF, que decide quem presta e quem não presta para ser
candidato. Ou as forças democráticas lúcidas se juntam agora, e não nas urnas,
para desmontar essa máquina de perseguição a adversários políticos, ou não
adiantará nada estarmos aqui gastando nosso latim. A eleição de 2018 já está
acontecendo. Ela está lá, encarcerada em Curitiba e defendida há um mês no
Acampamento Marisa Letícia. Ali está a Democracia, estúpido!
Everaldo de Jesus (jornalista
e mestrando em História pela Universidade do Estado da Bahia-UNEB)
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