Produção audiovisual de mulheres movimentará espaços culturais em Cachoeira


Mostra MAR – Mulheres, Ativismo e Realização envolve uma programação de exibição itinerante de filmes, oficinas, performances e rodas de discussão


Exibição de curtas metragens, mostra itinerante de longas, oficinas, intercâmbio artístico, performances e rodas de conversa. É de tudo isso que será feita a Mostra MAR - Mulheres Ativismo e Realização, um evento voltado para dar visibilidade à produção e exibição audiovisual de realizadoras brasileiras em diferentes espaços culturais da cidade de Cachoeira e distritos, de 16 a 20 de maio. A iniciativa é uma realização da Mulher de Bigode Filmes, em parceria com o Coletivo Gaiolas, e é viabilizada por meio do apoio financeiro da Secretaria de Cultura do Estado da Bahia, através do Fundo de Cultura do Estado da Bahia e do Governo do Estado da Bahia.

Com o desejo de ser uma grande tela para a valorização da produção audiovisual de mulheres em sua diversidade, surge a Mostra Mulheres Ativismo e Realização – MAR, como um território de acesso às narrativas contemporâneas desenvolvidas por mulheres. A MAR é um espaço para projetar filmes realizados por mulheres, em tempos em que avanços e conquistas convivem com retrocessos e crescente conservadorismo. Durante o evento, será garantido o espaço para valorizar, difundir e promover as narrativas contemporâneas realizadas por mulheres em sua diversidade.
O evento já começa com a exibição do filme O Processo, de Maria Augusta Ramos, que documentou o processo de impeachment da presidenta Dilma Rousseff e ganhou grande repercussão internacional e nacional. O filme foi premiado como “Melhor Longa-Metragem” no festival IndieLisboa, em Portugal. A diretora passou meses em Brasília documentando cada sessão, cada ato, cada episódio que culminou na retirada de Dilma da Presidência da República.  A sessão acontecerá na cerimônia de abertura Praça Teixeira de Freitas, com acesso livre do público.

A MAR recebeu 332 curtas metragens de mulheres brasileiras. 23 foram selecionados pela curadoria da mostra, apontando para uma produção diversa e que passeia por temas como a solidão da mulher negra, ancestralidade, transfeminismo e cinema experimental. Desse número levantado, 41,1% das obras inscritas são documentários, 33 %  são filmes de ficção. A maior parte dos filmes desenvolvidos foram realizados em 2017: 54,9% curtas metragens. Do conjunto das obras inscritas, 70,7% foram realizadas de modo independente, sem acesso aos mecanismos de financiamento. Também foi importante visualizar o perfil das realizadoras: 21,5% são do Rio de Janeiro e 16,2% da Bahia. Desse cenário de diretoras, 60,1% são brancas e 21,6% são negras. A imensa maioria das inscritas são ceratogêneas (pessoas cis) (97,8%) e heterossexuais (49,1%).

Os filmes selecionados são narrativas realizadas por mulheres de diversos territórios do país, filmes festejados no circuito nacional e internacional de festivais nos últimos dois anos, somado a obras de realizadoras estreantes, com filmes que nascem agora, na urgência, em meio as necessidades de transformação e reexistência dos últimos acontecimentos. Dentre os curtas selecionados, uma parcela significante é de realizadoras negras: EM BUSCA DE LÉLIA, de Beatriz Vieirah (BA), TRAVESSIA, de Safira Moreira (RJ), FOTOGRÁFICA, de Tila Chitunda (PE), DO QUE APRENDI COM MINHAS MAIS VELHAS, de Fernanda Onisajé e Susan Kalik / SOLIDÃO DA MULHER PRETA: Fabíola Silva (BA) / EXPERIMENTANDO VERMELHO EM DILÚVIO, de Michele Mattiuzzi, MARIA, de Elen Linth e Riane Nascimento (AM). A temática LGBTTQIA também está bem representada:  AZUL VAZANTE, de Juliana Alqueres(SP), TRANSVIVO, de Tati W. Franklin (ES),  MARIA: Elen Linth e Riane Nascimento (AM), e AS VERDADE DE ALE EM NÓS, de Juslaine Abreu-Nogueira (PR).

Para a curadoria da mostra, composta por Amaranta Cesar, Cintia Cruz, Daniela Galdino, Laís Lima e Luara D., a MAR cumpre um papel contra-hegemônico na conjuntura política e social do Brasil:  “num país que bate recordes mundiais em extermínios motivados por ódio - lgtbfobia, misoginia, racismo - ergue-se esse corpo robusto, diverso, desafiador e resistente de filmes (e) de mulheres, como um punho cerrado para o alto, como um coro de multidão a romper o silêncio do golpe, como um sopro de liberdade a contrariar os arames farpados do patriarcado, como um passo de dança na cara do fascismo, como palavras de amor a desafiar a morte e a dor. Somos muitas e nossos corpos estão vivos, são inventivos e seguem firmes na luta”.

INTERVENÇÕES  – Por meio de uma convocatória aberta publicamente, a MAR selecionou seis artistas da cena da performance, das artes visuais, da dança e da música que trarão para a Mostra a convivência entre diferentes linguagens artísticas. São elas Marie Thauront, Fernanda Abreu Paim, Val Souza, Liz Under, Udimila Oliveira e Brena Elem, do VisiOOnárias que irão se espraiar por diferentes pontos da cidade de Cachoeira. Além disso, contaremos com a participação super especial de Ana Beatriz Almeida, que irá apresentar a performance “Sobre o Sacrifício Ritual” na abertura da mostra, no dia 16, e da apresentação de Street Dance “Poder Feminino”, do grupo EX13 (Cachoeira) no encerramento, dia 20.

Duas rodas de discussão reunirão nomes atuantes no audiovisual brasileiro e da abertura para produções lideradas por mulheres. No dia 17, às 16h30, na Taberna Dom Pepe, ocorrerá um debate “Por um cinema plural e político: a busca por equidade nas produções”, organizada pelo coletivo Gaiolas, que contará com a participação de Mariani Ferreira (Roteirista e Produtora Executiva do filme O Caso do Homem Errado), Bruna Leite (Mulheres no Audiovisual em Pernambuco - MAPE) e Carine Fiúza (União de Mulheres do Audiovisual Paraibano – UMA/PB)  e Luana Rufino (Superintendente de Análise de Mercado | SAM – ANCINE), sob mediação de Ohana Sousa (Coletivo Gaiolas). No dia 18, no mesmo horário e local, teremos a mesa “Nossa forma de ver, olhar e fazer: Como o olhar intervém nas narrativas construídas?”, organizada pela Rede de Cinema Negra e Rebento Produções. A mesa, que propõe o fortalecimento da identidade negra através do audiovisual, contará com a participação de Érica Sansil (diretora/RJ), Íris de Oliveira (documentarista/BA), Lílis Soares (diretora de fotografia/RJ), Stella Zimmerman (produtora executiva/PE), e mediação de Clarissa Brandão (produtora e diretora/BA).

Os quatro dias da Mostra MAR serão recheados de atividades de formação e aprimoramento da linguagem audiovisual.  A oficina PROJETAR será mediada por Maiana Brito (realizadora e pesquisadora) e pretende fazer uma discussão sobre a interação entre o audiovisual e o ambiente educacional, com foco nas tecnologias da informação. A oficina de roteiro para documentário terá o foco na escrita criativa e estratégias documentais, e será conduzida por Letícia Simões, mestra em Cine-Ensayo pela EICTV (Cuba) e em Estudos Contemporâneos das Artes pela UFF.  Contando com a mediação da fotógrafa, militante e realizadora Luara D, também teremos a oficina de Vídeo-crônica, que irá trabalhar a construção de histórias a partir das próprias narrativas e equipamentos das mulheres presentes, com uma metodologia inspirada no curta-metragem ‘Sô isso não, Dona’. As oficinas são parte essencial da programação e prometem ser um espaço de muita troca e crescimento para as participantes.

Fundo de Cultura do Estado da Bahia (FCBA) – Criado em 2005 para incentivar e estimular as produções artístico-culturais baianas, o Fundo de Cultura é gerido pelas Secretarias da Cultura e da Fazenda. O mecanismo custeia, total ou parcialmente, projetos estritamente culturais de iniciativa de pessoas físicas ou jurídicas de direito público ou privado. Os projetos financiados pelo Fundo de Cultura são, preferencialmente, aqueles que apesar da importância do seu significado, sejam de baixo apelo mercadológico, o que dificulta a obtenção de patrocínio junto à iniciativa privada. O FCBA está estruturado em 4 (quatro) linhas de apoio, modelo de referência para outros estados da federação: Ações Continuadas de Instituições Culturais sem fins lucrativos; Eventos Culturais Calendarizados; Mobilidade Artística e Cultural e Editais Setoriais. Para mais informações, acesse: www.cultura.ba.gov.br



Serviço

MAR – Mulheres Ativismo e Realização
16 a 20 de maio  | Cachoeira-BA
Programação completa: 
www.marderealizadoras.com

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