DOM TIMÓTEO, UM RELIGIOSO QUE OUSOU CONFRONTAR A DITADURA


Nos tempos atuais, marcados por uma ditadura togada tutelada por generais, recordar um personagem da envergadura do abade Dom Timóteo Amoroso Anastácio se faz necessário. No período da ditadura civil militar (1964-1985), ele foi um dos líderes religiosos que ousaram enfrentar o poder dos generais, denunciar as torturas e pedir a volta da Democracia. 

A descoberta do memorando da CIA que revela a política de estado de assassinato sumário de opositores, cuja prática foi dada continuidade por Ernesto Geisel (1975-1979), desmonta a farsa da "ditabranda". É também esclarecedor de um dos mais difíceis episódios da trajetória de Dom Timóteo. Em dezembro de 1976, a ditadura matou uma série de dirigentes do PCdoB, na conhecida "Chacina da Lapa". Um dos principais dirigentes, Haroldo Lima, foi levado para os porões do DOI/CODI, em São Paulo . Entretanto, nos comunicados oficiais da operação, a repressão omitiu a sua captura.

Esse episódio é contado em riqueza de detalhes por Solange Lima, esposa de Haroldo, em seu livro de memórias "De pouso em pouso" (2010). É o dirigente do PCdoB quem afirma ter escapado da morte por um milagroso telefonema de Dom Timóteo à cúpula militar, no qual afirmava ter certeza  de que a ditadura o mantinha preso. Essa intervenção teria resultado no abrandamento das torturas e no reconhecimento de que ele estava sob custódia.

Haroldo Lima sempre acreditou de que seu destino era ser assassinado e virar um "desaparecido". O memorando da CIA revelado pelo pesquisador Victor Spector, comprova a tese. A ordem de matar os principais opositores havia e foi repassada de general para general. E a ação corajosa do abade de São Bento derrubou a farsa montada para eliminar mais um inimigo da ditadura.

Por Everaldo de Jesus.

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