Quando o sol queimando pinga sobre a caatinga, ele não só
seca a terra: refaz um caminho. Nas veias ressecadas do Semiárido, iniciativas
silenciosas crescem como plantas teimosas, gerando luz, alimento, dignidade.
São dez fábricas-escolas sendo gestadas nas regiões dos oito
estados onde o projeto se espalha com foco na capacitação de jovens como
eletricistas sociais. Tecnologia vinda de baixo, de dentro das comunidades.
No sertão de Ibimirim (PE), o projeto Ecolume combina
agricultura e energia solar. Sob os painéis, tecnicamente planejados, brotam
hortaliças, galinhas, peixes. Água reciclada, produção agroecológica, alimento
e luz como se fossem frutos da mesma raiz.
Essa é a nova fronteira: sistema agrovoltaico que planta
futuro sem desmatar, que junta alimento e energia para alimentar corpos e
mentes.
Na comunidade Açude da Rancharia (Juazeiro, BA), um modelo
de saneamento rural ganha forma: esgoto doméstico tratado por energia solar,
água reaproveitada para alimentação animal, triagem de lixo e banheiros dignos
para famílias antes invisíveis. Tudo isso articulado por uma comissão local,
com formação técnica e gestão comunitária assistida pela CAR e o projeto
Pró-Semiárido.
Em 28 de julho de 2025, o BNDES e o Governo da Bahia
pactuaram R\$ 299 milhões no programa Sertão Vivo, beneficiando 75 mil famílias
no semiárido baiano. São recursos para práticas agrícolas adaptáveis às
mudanças climáticas, promovendo resiliência, inclusão e segurança alimentar por
toda a região.
A pobreza energética — muitas vezes invisível — vira
protagonista: famílias que mal conseguiam pagar a conta de luz agora têm
energia para cozinhar, estudar, refrigerar alimentos e produzir.
A água, ainda escassa, vira recurso múltiplo: espécies,
irrigação e reuso são trilhas que se conectam com o sol para garantir
autonomia.
A agroecologia sai da labuta silenciosa e se mostra modelo
viável — e lucrativo. Agroecologia não é moda: é futuro sustentável com
identidade e renda digna.
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