Quero me solidarizar com os eleitores de Bolsonaro. Refiro-me exclusivamente aos que professam sua fé em Jesus Cristo. Deve ser duro e constrangedor para vocês ter que defender um candidato que diz tantas coisas contrárias ao espírito do evangelho. Imagino a crise de consciência que muitos de vocês enfrentam. Eu digo “muitos” em vez de “todos”, porque sei que nem todos se alinham de fato aos ensinos de Cristo. Alguns se sentem absurdamente à vontade, não apenas para confiar-lhe o voto, mas também para defendê-lo em redes sociais. Alguns se dispõem até a perder amigos e familiares por amor a Bolsonaro. Isso mesmo. Talvez jamais tenham feito isso por amor a Jesus. Mas por alguma razão, Bolsonaro parece reunir todas as qualidades que o fazem merecer sua irrestrita lealdade.
Creiam: eu já vi este filme antes. Meu rosto cora de vergonha ao confessar que meu voto ajudar a eleger Fernando Collor de Mello, o "caçador de marajás", que dizia em sua propaganda eleitoral que nossa bandeira jamais será vermelha. Por isso me solidarizo com cada um de vocês.
Não se sintam constrangidos. Vocês não estão sós. Ao longo da história, muitos cristãos adotaram postura semelhante, protagonizando ou apoiando discursos e atitudes antagônicas à fé que diziam professar. Vejam, por exemplo, as cruzadas, quando o mundo cristão se levantou contra o mundo muçulmano para retomar o controle de Jerusalém. À época, o Papa conseguiu convencer bons cristãos de que aquilo era o justo a se fazer, mesmo que muito sangue fosse derramado. Muitos pais liberaram seus filhos para lutarem ao lado dos Cruzados. Mais tarde veio a Santa Inquisição que mandou milhares de “hereges” e supostas “bruxas” para a fogueira. Até um reformador protestante aderiu ao espírito da época. Calma. Não precisa soar frio ainda. Como você mesmo pode ver, nosso telhado é de vidro.
Talvez o capítulo mais triste de todos tenha sido o do NAZISMO. Caso não saiba, foi a igreja evangélica alemã que elegeu Hitler. Ele prometia varrer a corrupção daquele país e combater o comunismo, zelando pelos valores cristãos da família tradicional. Sabe qual era o slogan de sua campanha? Adivinha! “Deutschland über alles”, que é traduzido em português como “Alemanha acima de tudo”. Isso te faz lembrar algo? Resultado: seis milhões de judeus, negros, homossexuais, ciganos e cristãos insurgentes mortos nos campos de concentração ou fuzilados no paredão.
Mais recentemente, foram os evangélicos que elegeram Donald Trump presidente dos Estados Unidos. Alguém poderá alegar que ele está fazendo um bom governo, que o índice de desemprego caiu. Daí, eu lhe pergunto: Você concorda com a política de Trump para os imigrantes? Não acha desumano que os filhos pequenos sejam separados dos pais e vivam enjaulados feito animais até o dia de sua deportação?
Você não está sozinho. Você apenas engrossa a voz da maioria. A onda “Bolsonaro” te pegou. Logo, se um dia isso lhe for cobrado em juízo, você poderá alegar não ter culpa alguma. Só tem um pequeno probleminha: ao ler este texto, você deixou de ser inocente. Antes não houvesse lido, não é mesmo? Recomendo até que pare por aqui, se não a coisa vai complicar para você.
O mandamento diz: "Não acompanhe a maioria para fazer o mal” (Êxodo 23:2). Portanto, sinto muito em lhe informar, mas esta desculpa não cola mais. O apóstolo Paulo é claro ao nos advertir a não sermos cúmplices das obras infrutuosas das trevas (Efésios 5:11).
Ao votar em um candidato que se opõe às minorias, aos direitos trabalhistas, aos direitos humanos, e ainda faz apologia à tortura e a ditadura, você está se juntando às hordas de cristãos professos que negaram a eficácia do evangelho. Assim como hoje julgamos as gerações de cristãos que apoiaram massacres, perseguições, cruzadas e inquisições, gerações futuras nos julgarão acerca do posicionamento que adotarmos agora. Não está em jogo apenas o resultado de uma eleição, nem os Fake News que têm sido espalhados por lideranças cristãs que só querem estar próximas do poder. O que está em jogo é o futuro do país. Depois não digam que não foram avisados.
Que bom que a história do Cristianismo não se resume a esses capítulos tenebrosos que citei acima. Houve cristãos que lutaram contra o regime escravocrata. Outros, como Martin Luther King, emprestaram a voz na defesa dos direitos civis dos negros norte-americanos. Ele foi chamado de “comunista”, baderneiro, promíscuo, e acusado de participar de orgias. Acabou brutalmente assassinado com foi recentemente Marielle, defensora dos direitos humanos. Infelizmente, este tem sido o destino de muitos dos que se insurgem contra a hipocrisia imperante, desmascarando o discurso de ódio e preconceito travestido de religiosidade. Hoje, a maioria dos cristãos enche a boca para falar de Luther King. Ele se tornou motivo de orgulho para a comunidade cristã. Outro que não se dobrou foi Bonhoeffer, o pastor que peitou Hitler quando seus colegas só faziam elogia-lo. Acabou fuzilado por um pelotão nazista.
Daqui a vinte anos, que versão da história você contará aos seus filhos? De que lado você se posicionou? Pense nisso antes de sair por aí defendendo o indefensável. Ainda há tempo de repensar. Não é vergonhoso mudar de opinião. Vergonho é teimar com uma coisa mesmo conhecendo a verdade acerca dela.
Só uma pergunta básica: este texto lhe despertou ódio ou compaixão? Pense bem que tipo de sentimento este candidato tem despertado em você. De nada vale uma esperança recheada de ódio e intolerância.
Por Hermes C. Fernandes.
Um comentário:
Amem amem.
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