Com o título “Em defesa da energia nuclear” o jornal do
Commercio de Pernambuco divulgou em 6 de setembro último, uma entrevista com o
filho do senador Fernando Bezerra Coelho, que tem o nome do pai, atual ministro
de minas e energia, por força das circunstâncias.
Sua entrevista é de uma clareza cristalina sobre o que o
“menino” pretende fazer como ministro de um dos ministérios mais estratégicos
para o país. Obviamente como resposta a primeira pergunta “de quais as
principais iniciativas que vai adotar?”, tratou logo de asseverar sua total
ignorância para o posto que foi guindado. Confessou que seu ministério foi
montado com uma equipe de pessoas ligadas ao mercado, as empresas privadas; com
o intuito de gerar um ambiente favorável para o mercado. Ou seja, será somente
um titere nas mãos dos grupos empresariais, das corporações, cujos interesses
são somente mercantis.
Com relação a pergunta feita pelo repórter sobre sua posição
quanto a energia nuclear tratou logo de desqualificar aqueles que pensam o contrário,
que afirmam que o Brasil não precisa de usinas nucleares. Disse que não tem
preconceito sobre esta fonte energética.
Sua resposta demonstra sua completa ignorância, à falta de
conhecimento, sabedoria e instrução sobre este tema. Sua crença em elementos
amplamente divulgados como falsos. E a
sua ignorância é tanta que nem sequer está em condições de saber aquilo que lhe
falta.
O ministro conhece bem é como manipular seu curral
eleitoral, afirmando em recente visita ao lado do seu pai, aos correligionários
do sertão pernambucano, que a usina nuclear será construida em Itacuruba, e
trará “desenvolvimento” , empregos e geração de renda aos moradores dos
municípios do seu entorno. Isto o ministro e seu pai sabem fazer. Manipular a
informação, iludir as pessoas, vender uma falsa imagem de poderoso, daquele que
decide.
A energia nuclear para fins energéticos é totalmente
desnecessária ao país para sua segurança energética. Esta justificativa de que
ela é a salvação contra o “apagão” é trazido a tona, de tempos em tempos, por
aqueles que defendem esta fonte de energia por interesses outros, muitas vezes
nada republicanos.
O custo de uma usina de 1.000 MW está em torno de 15 bilhões
de reais (se não houver atrasos nas obras). Pense numa obra desta magnitude no
Brasil que tenha sido entregue em dia, sem novos aditivos? Sem propinas das
empreiteiras. O custo da energia para o consumidor é tão caro que se não fosse
os subsídios do governo (de todos nós) seria proibitivo comparado com outras
tecnologias de geração de energia elétrica. Os custos são camuflados, não se
leva em conta nos custos os danos ambientais do ciclo do combustível, e nem o
descomissionamento da usina depois de cumprido sua vida útil.
Caso haja vazamento de material radioativo, ai sim que a
coisa complica. Material radioativo
disperso na natureza contamina o ar, a água, o solo e subsolo por tempo
indeterminado. No desastre de Fukushima fala-se em 40 anos para a
descontaminação, e várias dezenas de bilhões de dólares. Nenhuma seguradora do
mundo aceita assegurar uma usina nuclear. É o próprio Estado que tem que
assegurar a usina para caso de acidentes.
Quanto ao material radioativo produzido nas reações
nucleares, aqueles de maior radioatividade, ainda não se sabe o que fazer com
eles. Como armazená-los definitivamente. O popular “lixo” fica como presente
para as gerações futuras. Belo presente, não senhor ministro.
E assim vai os aspectos negativos de uma usina nuclear, hoje
repudiada por vários países do mundo.
Portanto, aqueles que defendem que o país não precisa de
energia nuclear não tem nenhum preconceito. Suas posições são determinadas pelo
conhecimento dos impactos causados por tal tecnologia. Diferente do senhor
ministro que nada sabe sobre este assunto, e de outros do ministério que ocupa.
Que seja rápido sua passagem para o bem do país.
Para um desenvolvimento sustentável, voltado para o bem de
todos, da pessoa humana e da natureza, em um país como o Brasil com tantas
opções de produção de energias renováveis, a energia nuclear não passará.
Heitor Scalambrini Costa - Professor aposentado da Universidade
Federal de Pernambuco.
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