Lula vai precisar se reinventar após as eleições.

Nascido como alternativa aos partidos tradicionais, o PT – Partido dos Trabalhadores, mostra que precisa voltar a beber na fonte dos escritos e de seus idealizadores, e estes precisam se reinventar, podendo também, relerem o que escreveram, ou ouvirem seus próprios discursos do passado, para que possam colocar em prática, novamente, o que pensaram um dia como a opção política de esquerda para o Brasil.
Isto só acontecerá, se as suas lideranças ouvirem as bases e pegarem as estradas empoleiradas do Brasil, assim como fizeram no passado.
Eu tenho na memória a primeira vez que me encontrei com o maior líder sindical da década de 80, e que veio a se tornar mais tarde, presidente do Brasil. Era uma manhã e o convidado para o 1º de Maio, daquele ano, chegou para uma entrevista na rádio cultura de Paulo Afonso na Bahia. Veio de São Paulo em um Fiat 147. Lembro da cor, Bege. Estava acompanhado de um sujeito alto. Me pareceu ser um segurança. Após ter conversado ao vivo com Antônio José Diniz, proprietário da emissora e que teve a coragem de colocar para falar em seus microfones a pessoa mais visada pela ditadura moribunda. Acompanhamos, a pé, Luiz Inácio da Silva até o local onde estava estacionado um caminhão que serviu de palanque. A Plateia não contava com 100 pessoas. Ele retornou muitas outras vezes, já como o “Lula” oficialmente em seu registro.
Há também a história, contadas por sindicalistas e petistas de Sobradinho na Bahia, que um dia o prefeito da cidade, que não morria de amores pelo Partido e por aquele barbudo e suas caravanas, soube que Lula desceria de avião para fazer um comício. Como Lula fazia em mais de uma cidade comícios, encontros com lideranças sindicais e religiosas, se atrasou e anoiteceu. Pois, o prefeito ao saber disso, mandou apagar as luzes do pequeno aeroporto, impossibilitando a aterrisagem. O avião ficou fazendo voltas, e alguém teve a ideia de colocar os carros ao lado da pista com os faróis ligados, iluminando-a. O piloto conseguiu pousar e a história correu o sertão mostrando que um líder, faz de tudo para estar aonde o seu povo está´.
Ao conseguir eleger prefeitos, governadores e o presidente da república, muitos dos militantes que “comeram poeira” ocuparam cargos públicos. Isto por si só não constitui um crime ou erro mortal. Mas vem contribuindo para afastar a militância que surgiu nas lutas pelo fim da ditadura, pelas diretas já, por tantas e tantas lutas, da convivência com o povo. Está chegando a hora da reinvenção do Partido dos Trabalhadores, para que o “poder” não destrua o sonho de um partido unido em defesa das causas populares. Após as eleições de outubro o Lula e o PT vão precisar beber, e não é cachaça, mesmo sendo boa para quem toma, na fonte que gerou o Partido. É bonito ver ele receber títulos de Dr. pelo mundo a fora. Mas isto só serve para virar notícia. Quem vota, mora na zona rural do interior do sertão nordestino, no vale do Jequitinhonha em Minas Gerais, nas favelas das capitais e trabalham nas fabricas que deram origem ao Partido.
O frio da sala dos palácios é muito bom, mas não está ajudando a reverter o comodismo em votos. Lula e o PT precisam suar novamente. Precisam sentir o cheiro que exala do povo, o nosso cheiro. Ou de outra forma, vamos nos tornar de vez iguais aos partidos que são chamados de “governo”. Seja lá quem estiver no poder. Não pra isto que doamos parte de nossas vidas. Ainda há esperança. Retornemos ao passado para avançarmos ao futuro com dignidade.

Dimas Roque.

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