UMA NOITE BREGA (Do Livro: QUANDO O AMOR INCOMODA)



Magem ilustrativa

Eu tinha chegado durante a tarde naquela cidade. Me deparei com uma tarefa das mais dolorosas das que costumo passar. Ir a uma festa de São Pedro e ouvir um artista que não é nordestino cantando música brega. Não sei o porquê da contratação desses artistas durante os festejos juninos, mas parece que virou moda nas cidades de médio porte que realizam festas juninas. Lá pelas 21h eu estava diante do portão de entrada e era espremido pela multidão que queria entrar. Eu seguia os passos de um casal de amigos. Pisávamos na lama, o que já era sinal de que aquela noite seria uma tortura.

A área tinha uma quadra de esportes que ficava coberta. Vocês imaginam que quando a chuva começava e isto ocorreu durante boa parte da noite, aquela multidão tinha a mesma idéia, se amparar debaixo da cobertura.

Os meus amigos tinham marcado um local para encontrar seus amigos. Ficava encostado em uma coluna que dava sustentação à bendita cobertura da quadra. O que eu não poderia imaginar era que naquele local...

Pausa.

Lembram daquela frase... “a terra tem não sei quantos quilômetros. O Brasil tem lá seus... metros.” Você sabe do que estou falando.

Pois não é que bem atrás de onde ficamos, tinham duas garotas encima de um banco de plástico, tipo tamborete, a gritar feito duas malucas pelo tal do cantor de brega. A cada música, a cada gesto do cara, eu tinha que agüentar aqueles gritos ensurdecedores. Meu grande erro foi demonstrar que não estava gostando do que estava acontecendo. Não sei se por pura birra, mas a verdade é que surgiram mais umas três garotas a gritar. Era o coral mais desafinado, mais chato, mais...

Ta bom, ou vou cansar vocês. Mas que doía isso dóia nos ouvidos.

Para completar a cena, as garotas estavam bebendo feito loucas. Mas parecia que o mundo estava para acabar e que tinham que beber todas naquela noite.

Duas horas e meia depois. Quando eu já não aquentava mais aqueles gritos e pensava em ir embora, os gritos diminuíram. Aquela música chata já não incomodava mais. Meus ouvidos tinham se acostumado.

Vinte minutos depois os gritos já me faziam falta.

Foi ai que descobri através de uma das meninas que restaram que as duas vocalistas que estavam encima do banco estavam bêbadas em uma barraca. Dando o maior vexame.

Como sempre, lá estava eu a procurar confusão.

- Quer levar ela para casa? Pergunto eu.

- Você faria isto? Indaga uma das garotas.

- Claro que sim! Sempre a disposição, lá estava eu caindo em mais uma.

Fui até a barraca com a garota e ao chegar lá encontrei as duas, uma deitada no colo da outra e as duas dormindo. Uma cena feia pra zorra. Imagina duas mulheres bêbadas em uma barraca de festa de São Pedro e todos ao redor a rirem delas. Bom isto é cidade do interior.

Até hoje tenho as fotos que tirei das duas naquela situação.

Pegamos elas pelos braços e quando íamos levando para o carro, não é que elas despertaram. A festa começou a ficar ruim novamente. Os gritos iriam recomeçar. Engano meu. Depois daquela bebedeira acho que o gás delas acabou. Continuamos na festa, agora mais calma e sem gritos. Até uma dança eu arrisquei com elas. A noite terminou eu indo embora só e elas ficando na festa. Soube depois que ainda permaneceram até as 05h30mn da manhã.

Vocês devem estar se perguntando “o que tudo isto tem haver com O AMOR?” é que antes de sair eu perguntei a uma delas onde aquela garota de cabelos curtos trabalhava.

- No restaurante DA ESQUINA. Falou àquela garota que sempre dava informações quando eu perguntava.

Durante a semana seguinte. Todos os dias na parte da tarde eu ia lá. Comprava sorvete. Almoçava. Bebia refrigerante. De tudo eu fazia para passar por lá. No inicio eu fazia de conta que não a conhecia. Mas já na quinta-feira, não me contendo e percebendo que ela também deitava uma asa para mim, sapequei:

- Posso te roubar hoje à noite?

Acho que ela não entendeu a cantada! Ou será que foi horrível mesmo?

- Hoje não posso, à noite estarei na escola.

- E quando podemos nos ver?

- Já estamos nos vendo! Direta e no queixo.

Não me sentindo derrotado naquela luta entre duas pessoas que exalavam sentimentos um pelo outro. Pára de me sacanear. Não vou ficar dizendo aqui que ela não tava nem ai comigo, tenho que enfeitar a coisa para não parecer que estou muito oferecido. Voltando...

- Mas há uma chance de que eu possa te ver? Se não hoje, poderia ser amanhã!

Olhando nos meus olhos. Que lindos olhos os dela. Ela responde:

- Amanhã pode ser!

Não falei a vocês. Não adianta ter pressa, elas sempre querem. Fazem sempre aquele charme, mas no final, no final, no final... Me apaixonei por aquela garota. Saímos juntos algumas vezes. Ela começou a me chamar de “meu amor”. Como todo homem é um velho bobão, eu acreditei nela. Era meu amor prá lá, meu amor prá cá...

Hoje estou aqui conversando com vocês, solitário que nem um bezerro rejeitado. Com lagrimas nos olhos. Soube através de uns amigos em comum que ela está para se casar. Bom para ela e...

Para mim?

Zorra como esse negocio de amar dói.

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