Já era tarde da noite quando
ele resolveu deitar. Seu corpo cansado de um dia de trabalho estafante. Passou
nove horas na pedreira produzindo britas com a marreta em sua mão. Calejadas e
feridas. Ele tinha o olho esquerdo com a visão quase que perdida. Um dia uma
lasca de pedra atingiu seu olho e o deixou quase cego.
Ele deitou em sua cama
com seu colchão de palha. Já tentou comprar outro, mas nunca conseguiu juntar o
dinheiro necessário. Olhou de lado, como se buscasse alguém. Sua esposa o
abandonou. Não aguentou a vida sofrida que levava. Puxou o lençol feito de
retalhos de tecidos que dava um colorido naquele mundo cinza. Percebeu
novamente que estava só e deitou a sua cabeça no travesseiro. Um conforto nas
noites de sono profundo.
Apagou a luz. Mesmo deitado,
rezou pedindo a Deus pedindo dias melhores. Fez o sinal da cruz e entes de
adormecer, ficou durante algum tempo olhando para o teto do quarto. Olhava uma
fresta de luz que penetrava por entre as telhas. Vinha do poste que fica em
frente à sua casa. Adormeceu!
E em menos de cinco minutos,
pegou o lençol para cobrir até a cabeça. Só parte do rosto ficou descoberto.
Segundos depois, virou o rosto para o outro lado. Estava incomodado. Seu sono
estava sendo interrompido. De repente deu um tapa em seu próprio rosto. E outro.
E outro.
Levantou e acendeu a luz.
Ficou olhando de um lado para o outro. Ele buscava algo que não se via. Foi até
o canto do quarto. Olhou para um ponto especifico. Fez gestos com as mãos, como
se estivesse tentando matar algo. Parou. Olhou para as roupas penduradas em um
fio de náilon que ia de um lado a outro do quarto. Era o seu guarda-roupas. Foi
até elas, bateu com as mãos, mas nada acontecia. Percebendo que nada
encontrará, voltou a cama e deitou novamente.
Nem tinha fechado os olhos e
novamente parecia incomodado com algo. Já tinha se passado muito tempo. E tempo
de sono perdido para ele era garantia de sofrimento no dia seguinte. A noite
mal dormida resultaria em maior cansaço e sofrimento no sol escaldante do
sertão nordestino. E o resultado seria a menor produção de brita e menos dinheiro
no final da semana. Quando o patrão fazia os pagamentos depois de somar as
carradas que foram produzidas.
Deitou e dessa vez não
cobriu o corpo. Ficou só de cueca. Parecia prono para uma briga imaginaria. Com
um opositor invisível. Olhos abertos, à espreita da chegada de algo. Esperou
por alguns minutos e nada aconteceu dessa vez. Puxou novamente o lençol e se
cobriu. No rosto a certeza de que o sono viria e descansaria seu corpo.
Sua cabeça mexeu depois de
uns dois minutos. Ao longe se ouviu o barulho de um tapa no rosto. Levantou com
raiva, foi até o banheiro. Abriu a torneira. Olhou para as mãos. Deteve o olhar
na palma da mão esquerda. Em seguida a colocou na água que jorrava e exclamou:
morra miserá, vai agoniar a puta que te pariu com esse zumbido do caralho em
meu ouvido. Vai agora fazer barulho no inferno desgraça. Agora posso dormir em
paz!
Lavou as mãos. Enxugou na
pequena toalha que estava no braço da cadeira na sala. Retornou a cama e teve a
certeza de que anoite, agora, seria de sono profundo. Ele matou a muriçoca que
o incomodará até ele perder a paciência.
Deitado, se enrolou
novamente e deitou a cabeça. O sono chegou. Amanhã o dia seria de trabalho e
sem cansaço. Era tudo o que ele desejava a cada manhã.
Luzes apagadas. Som de carro
distante. Nada mais o incomodava. De repente, ele puxa o lençol e cobre
novamente a cabeça para em seguida virar de um lado para o outro...
Dimas Roque.
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