DESALENTO PETISTA (MAS HÁ OUTRO CAMINHO)

Após mais de uma década sob a hegemonia de uma estratégia que elegeu a  conciliação como valor absoluto; do pragmatismo  consolidado como caminho único para mudanças (sempre graduais); da estigmatização da mobilização social e do enfrentamento ideológico, eis que hoje a maioria dos quadros petistas e boa parte da militância de base se encontra prostrada.

Converso com meus companheiros e companheiras, militantes, quadros intermediários e mesmo dirigentes do PT e, em quase todos, só vejo desalento, pessimismo e desorientação sobre o cenário político-econômico. Sobram derrotismo, passividade,  conformismo. 

Mas, ora: nunca o PT e o projeto democrático-popular estiveram tão atacados. Estivemos à beira do impeachment de Dilma e Lula pode  até ser preso! A conjuntura exige mais do que nunca reflexão, coesão,  clareza, disposição de luta, mobilização.

TODAVIA, a responsabilidade sobre esse estado de torpor não  pode ser atribuída apenas à militância e aos quadros médios. 

Defensivismo, falta de combatividade,  burocratismo, acomodação, ausência de formação política, hiper-pragmatismo, distanciamento da luta social foi um arcabouço construído pela maioria da direção petista  e pelo nosso Lula nos últimos 20 anos.

O mais grave: mesmo nesse momento de crise mais aguda, nem a maioria da direção do  PT, nem Lula, e muito menos Dilma fazem qualquer movimentação assertiva, combativa, de enfrentamento ao tsunami reacionário.

Parecemos todos avestruzes, com nossas cabecinhas docemente enfiadas no chão.

Será que a tática (genial e secreta)  é apanhar seguidamente sete rounds e reagir no final do oitavo, com um nocaute espetacular, mimetizando Mohamed Ali - naquela lendária luta contra Foreman?

Um exemplo: alguém sabe explicar o  que foram aquelas três inserções do PT veiculadas semana passada? 

A protagonizada pelo Rui trouxe bom discurso, mas sem um chamado mais concreto à luta. A outra, reproduziu um senso comum, meio auto-ajuda, na linha "sou brasileiro, não desisto nunca" - inócua. E a terceira, pior de todas: conclamou todos brasileiros, os azuis, os verdes e  os vermelhos a abaixarem suas bandeiras, porque o momento agora é de união nacional. Cumã? Será que combinaram com os tucanos isso? Really?

Logo agora, no momento que deveria ser  de absoluta resistência, de organizar a contra-ofensiva ao golpismo e à tentativa de destruição do PT e  linchamento do Lula? 

Nesse quadro crítico, a linha da nossa direção é baixar as bandeiras vermelhas? Fugir do enfrentamento político? Torcer para crise  passar? É conciliar com quem quer nos exterminar?

Todos os dias fico me perguntando o que mais  precisa acontecer para o governo Dilma mudar sua política econômica ou para a presidenta trocar o Ministro da Justiça e dar um basta aos abusos da Polícia Federal tucana.

E o que ainda mais falta para que  Lula e a  maioria da direção do PT reajam  partam para a disputa aberta contra a direita? Quando vão parar de subestimar a grande mídia, o aparato MP-PF-Judiciário, o PSDB, a burguesia, o imperialismo?

Será que estamos esperando a prisão de Lula e a cassação de registro do PT para pensar em começar a reagir?

Daí porque que só restou à  maioria da militância petista - forjada na política de conciliação - um governismo acrítico e um profundo desalento.

O que nos salva é que nesse Brasil  existe  muita esquerda organizada. E existe o petismo, uma ampla massa militante e simpatizante, que pode fazer a diferença. 

Temos a Frente Brasil Popular (com CUT, MST, UNE, CMP), temos a Frente Povo sem Medo, temos movimentos sociais, temos o ativismo digital, a juventude progressista, temos PSOL, PCdoB, setores do PDT, PCO, a base petista não entorpecida. 

Esses setores barraram o impeachment. Apontaram a  possibilidade da construção  um campo de resistência e re-afirmação do projeto democrático-popular e socialista no Brasil.

E são esses atores que no dia 17 de fevereiro, 10h, estarão no Fórum da Barra Funda dizendo para as elites: "mexeu com Lula, mexeu comigo".
 CAMINHO) Julian Rodrigues.

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