Barbudo, místico, poeta, gente boa até o osso, JUVENÁ não
falava com palavras difíceis, mas o que dizia entrava como aula. Tem quem diga
que ele entendia mais de sociedade do que muito doutor de gabinete - e é
verdade. Porque JUVENÁ escutava o povo, vivia o povo, era o próprio povo.
Ele comandava a barraca de praia como quem regia uma orquestra descalça. Assava um peixe na brasa com maestria, cutucava um cliente desanimado, dava conselhos de vida, resolvia treta de casal, e ainda arranjava tempo pra discutir política com firmeza de quem acreditava num mundo melhor. Sempre do lado de cá: do trabalhador, do povo que batalha.
Socialista convicto, coração aberto, defendia a gente
simples com a mesma força que armava um guarda-sol no vento. Não tinha tempo
ruim - quando chovia, ele dizia que era bênção, quando fazia sol,ele agradecia,
quando o mar subia, ele sorria e dizia que "o mar só cobra o que é
dele".
Mas por que o chamavam de Animal? Ah...isso ninguém sabe ao
certo. Uns dizem que era porque ele vivia com intensidade, outros acham que era
da época da juventude agitada. Mas todo mundo concorda com uma coisa: era um
bicho raro, desses que a cidade abraçava, mas não conseguia amansar.
JUVENÁ era ponte entre o turista e a Bahia de verdade. Era
conselho de mãe com sotaque de rua. Era sabedoria com cerveja gelada, diabético
e diabólico. Porteiro do mar de Itapoan - recebia quem chegava e abençoava quem
partia.
No fundo, Juvená era aquilo que faltava o mundo. Alguém que
olha no olho, escuta com calma, e fala com verdade.
E hoje, quando o sol começa a se deitar no Atlântico é como
se o céu também parasse pra ouvir sua voz. Porque enquanto houver mar, areia,
rede e conversa Boa, haverá JUVENÁ - de pé na beira da praia, comandando o vai
e vem das ondas, como um bruxo poético das águas fundas de Itapoan.
Por: Jorge Papapá.
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