Esquerdogata presa, polícia e a guerra nas redes

A madrugada de 25 de outubro em Ribeirão Preto terminou em manchete nacional. Aline Bardy Dutra, conhecida como Esquerdogata, foi detida após uma abordagem policial no centro da cidade. O episódio, registrado em vídeos que circularam intensamente nas redes sociais, mostrou a influenciadora discutindo com policiais militares, usando palavras duras e debochando da autoridade dos agentes. O boletim de ocorrência apontou injúria racial, desacato e resistência, acusações que agora serão analisadas pela Justiça.

Aline, que soma centenas de milhares de seguidores e se tornou uma das vozes mais conhecidas da militância progressista online, não negou sua postura exaltada. Nos vídeos, ela aparece chamando policiais de “fascistinhas” e “nazistinhas”, além de ironizar a condição social dos agentes. Em outro momento, segundo o registro policial, teria feito referência a um PM negro em tom considerado ofensivo. Esses trechos embasaram a acusação de injúria racial, crime grave que não pode ser relativizado.

Apesar do erro evidente na forma como reagiu à abordagem, é impossível ignorar o peso político de sua trajetória. A Esquerdogata construiu uma audiência expressiva ao denunciar retrocessos democráticos, defender pautas sociais e mobilizar jovens em torno da política. Sua prisão, portanto, não é apenas um caso policial, mas também um episódio que expõe a fragilidade de lideranças digitais diante da pressão constante de adversários e da vigilância pública.

Após a audiência de custódia, Aline foi liberada para responder em liberdade, com medidas cautelares. A repercussão, no entanto, foi imediata e ela perdeu dezenas de milhares de seguidores em poucas horas e virou alvo de ataques de parlamentares da direita, que exploraram o episódio para desqualificar sua militância. A reação mostra como deslizes individuais podem ser usados como munição política em um cenário de polarização extrema.

É preciso reconhecer que erros acontecem, inclusive entre aqueles que se dedicam à luta por justiça social. Aline errou ao perder o controle e ofender policiais, mas isso não apaga sua relevância como comunicadora e militante. Abandoná-la neste momento seria entregar de bandeja à oposição uma vitória simbólica contra a esquerda. O desafio é cobrar responsabilidade sem negar a importância de quem, com todas as falhas humanas, ajudou a manter viva a chama da democracia em tempos sombrios.

Mesmo com seus erros, Aline merece todo o nosso apoio neste momento.

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