Hoje (dia 21/08/17) foi um dos dias mais tristes da minha
vida! Por volta das 18:45, a caminho da escola pública em que trabalho no turno
da noite, fui parado na avenida independência por uma blitz com agentes de
transito de Ananindeua, onde se encontravam também a guarda municipal e a PM,
um agente se aproximou e pediu a habilitação e o documento do veículo
(entreguei o boleto do licenciamento pago e dentro do prazo legal de 1 mês para
que eu pudesse circular com ele, conforme está escrito no mesmo), que já se
encontravam em minhas mãos, assim que entreguei
o agente, com o olhar meio estranho, perguntou se o veículo era
realmente meu, ainda com desconfiança me perguntou quando eu havia trocado a
cor do meu veículo, pois o mesmo nunca tinha visto um New Civic Amarelo, em
seguida ele pegou a lanterna que usava e foi conferir a placa na frente do
carro, logo depois começou a verificar os quatro pneus indo para a parte de
traz do meu veículo, foi quando eu escutei um barulho, olhei ainda dentro do
carro pelo retrovisor e percebi que o agente de transito estava levantando o
corpo, ele retornou para próximo de mim e pediu que eu descesse do carro e
abrisse o porta mala, olhou dentro e viu
as provas dos meus alunos e livros, foi quando ele me informou que o lacre da
minha placa estava rompido, e que provavelmente isso tinha ocorrido porque a
pintura do carro era recente e que eu não deveria ter passado pela vistoria no
Detran, dessa forma o veículo seria removido. Imediatamente falei que o lacre
não estava rompido e que havia mudado a pintura há 3 anos, e que tinha
documento para provar. Mesmo assim ele continuou a insistir, e pediu para que
eu esperasse enquanto ele iria conversar com o motorista do guincho. Logo em
seguida o motorista do guincho se aproximou e sem nenhuma cerimônia me informou
que se eu pagasse R$400 o veículo seria liberado. Nesse momento pensei na lama
que esse país está mergulhado, na minha família, no meu pai que sempre me
ensinou a trabalhar e estudar para conseguir as coisas com honestidade, e
também nos meus alunos... Como eu iria encara-los de cabeça erguida, pagando
propina mediante uma tentativa de extorsão. Imediatamente informei ao motorista
do guincho que não pagaria, foi quando ele pegou o guincho e aproximou do meu
carro para leva-lo, me dirigir ao agente e tentei argumentar novamente em vão.
Pedi então que pelo menos ele me emprestasse o celular para que pudesse ligar
pra irem me buscar, pois estava sem telefone, apenas com o meu cartão de debito
no meio da Av. Independência atrás da Granja do Governador. Nesse momento
conseguir falar com minha esposa rapidamente para que fossem me buscar, pois
iria retirar os meus pertences de dentro do carro, além dos trabalhos e provas
das minhas 19 turmas que tenho na escola pública. Comecei a tirar os meus documentos, os
pinceis, algumas provas e trabalhos, o meu jaleco do qual sinto tanto orgulho,
a caixa de som que uso vez ou outra em minhas aulas, o meu notebook, os objetos
da minha filha, e colocando no chão. Enquanto retirava as coisas ouvia por
parte dos de todos que estavam ali (agentes e guarda municipal): “ Esse Negão
ta demorando muito, deve ta escondendo algum bagulho dentro desse carro, só
pode”. “Tá demorando porquê? Tu chamou alguém pra te ajudar é?” “De carro só
tem o teu, estamos com pressa... Vamos pra outro lugar”. Já o motoristas do guincho que estava
cercado de guarda municipal e PM falava: “ Eu não tenho a noite toda pra te
esperar, tira logo rápido, senão eu vou
puxar o teu carro aberto mesmo e com tudo dentro, tu duvidas?? Demora mais um
pouco pra tiver”, “tu pensas que eu tenho só o teu carro pra puxar?”. “ Eu não
tenho que esperar tirar as tuas coisas”. Perguntei pra ele se faria o “check
in” do veículo, e ele afirmou, em tom de deboche, que o veículo chegaria no
pátio de retenção do jeito que ele quisesse que chegasse. Que não era eu que
tinha que falar o que ele deveria fazer. Nesse momento me dirigir ao chefe da
operação para que ele ligasse para o 190 e solicitasse uma viatura, pois a
blitz seria desmontada e eu ficaria sozinho em um lugar escuro e perigoso
podendo ser assaltado e correndo risco de morte, já que ninguém da minha
família havia chegado. Quando virei para traz o motorista do guincho estava
dentro do meu veículo revirando tudo pra pegar a chave e desengatar o carro,
enquanto o outro começava a puxar o carro com os vidros abertos e sem que eu
terminasse de tirar o restante das coisas, tudo isso sobre os olhos da guarda
municipal e dos agentes da Semutran. No desespero não sabia se corria para o
veículo ou pegava as provas dos meus alunos que começaram voar na calçada e na rua,
resolvi pedir emprestado o celular de um moto táxi que estava no local pra
filma e bater foto da situação. Ao desligar o aparelho comecei a ser ameaçado e
coagido pelo motorista do guincho, na frente dos agentes, guarda municipal e
PM, que nada fizeram. Graças a Deus a minha esposa e o meu Cunhado chegaram ao
local, e começaram a me ajudar e tirar da rua as minhas coisas e subir encima
do guincho para fechar as janelas do carro e apagar a luz interna. Depois dessa
situação humilhante e constrangedora, resolvi procurar a delegacia da Cidade
Nova para registrar ocorrência, e pra
minha surpresa eles se recusaram a registrar o fato, alegaram que eu não podia
fazer um boletim de ocorrência contra o a gente que rompeu o lacre, o motorista
do guincho que tentou me extorqui e ainda me ameaçou, além do assédio moral que
sofri. Ao sair da delegacia liguei no 190 para tentar ter alguma orientação de
como proceder, eles me informaram que a ocorrência teria que ser feita, e que
seu preferisse poderia fazer virtualmente e levar em uma delegacia para o
delegado assinar.
Espero que esse meu desabafo sirva para que mais pessoas
denunciem esse tipo de conduta, que no município de Ananindeu, infelizmente, se
tornou corriqueiro. Todos que moram no município ou trafegam por ele sabem que
muitos agentes nunca estão lá para orientar ou educar, apenas multar e cometer
esses tipos de abuso.
Durante o tempo que estive na blitz percebi que o único veículo
que eles analisaram minuciosamente foi o meu, inclusive me fazendo abrir a
mala. Com certeza ficaram frustrados, porque quando viram um Negro, à noite, em
um CIVIC, não imaginavam que poderia se tratar de um professor com dois
diplomas a caminho do seu local de trabalho e a mala cheia de provas, trabalhos
e livros (infelizmente a minha constituição, o código de transito e o estatuto
da igualdade racial não estavam na mala do meu carro, tirei nas férias quando
fui viajar).
Espero que os meus amigos, alunos, ex-alunos que hoje se
tornaram policiais, advogados entre outros, possam me ajudar de alguma forma,
para que esse não seja apenas mais um caso, pois confesso a vocês que ao chegar
em casa não pude conter as lagrimas de tristeza. Mas um dia isso muda...
Por Pedro Júnior - Professor.
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