Binho Galinha na mata, balaio no na assembleia


Feira de Santana amanheceu sob a sombra de uma operação que busca desmontar uma teia de crime e política. A Polícia Federal localizou um carro blindado ligado ao deputado Kléber Cristian Escolano, o Binho Galinha, abandonado em área de mata, com sinais de equipamento e comunicação via satélite, enquanto a investigação avança com bloqueio de bens e prisões de aliados.

A ofensiva, batizada de “Estado Anômico”, mobilizou cerca de 100 agentes, auditores da Receita e equipes do Ministério Público e resultou no bloqueio de R$ 9 milhões e na prisão de familiares do parlamentar, a esposa e o filho estão entre os detidos, além de quatro policiais militares apontados como parte da rede de proteção investigada.

As apurações descrevem um grupo acusado de longa atuação em lavagem de dinheiro oriunda de jogo do bicho, agiotagem, extorsão e outras práticas que, segundo investigadores, teriam sido operacionalizadas por empresas de fachada e “laranjas” para ocultar recursos. A Justiça decretou mandados de prisão e busca em endereços de Feira de Santana, Salvador e municípios da região, o deputado, no entanto, não foi localizado e passou a ser considerado foragido, conforme relatos da polícia local.

A cena do carro blindado numa trilha e a detenção de agentes públicos reacendem uma preocupação central, a convivência entre poder local e estruturas criminosas quando o aparato do Estado falha em separar funções públicas de interesses privados. A operação é um desdobramento de investigações anteriores que já haviam criado um mapa de alertas sobre a atuação do grupo na região.

Ainda que a peça central, o paradeiro do deputado, permaneça em aberto, o recado institucional é claro, as forças de investigação ampliaram seu raio de ação e as medidas cautelares agora visam não só pessoas, mas a estrutura financeira que sustenta o esquema, com bloqueios e suspensão de atividades empresariais ligados aos investigados.

Para a sociedade local, o efeito prático promete ser imediato, enfraquecimento das fontes de coação e de financiamento clandestino, e espaço para que disputas eleitorais regionais sejam menos contaminadas por redes ilegais que atuam na sombra. A transparência das próximas decisões judiciais e a responsabilização penal serão os termômetros do real alcance desta operação.

A investigação seguirá em campo e em sigilo parcial para não comprometer provas, os próximos passos incluem rastreamento financeiro aprofundado e diligências para localizar os foragidos e esclarecer a extensão dos vínculos com agentes públicos e privados na cadeia política da região.

No curto prazo, a operação resgata para o debate público uma pergunta dura, até que ponto as estruturas de poder local se recuperam quando suas lideranças são atingidas, e quem preenche o vácuo político deixado por figuras que, se confirmadas as acusações, foram ponte entre o crime e o eleitorado? As respostas virão pelas decisões da Justiça e pelo escrutínio da sociedade sobre a lisura das próximas eleições na Bahia.

Nenhum comentário:

Postar um comentário