Especialistas ouvidos pela reportagem destacam que crises
fiscais municipais raramente nascem de um único erro, nascem de escolhas
sucessivas. Cortes de investimentos, postergação de obras e escolhas por gastos
de efeito imediato costumam criar economia de curto prazo e custo social de
médio prazo. Em Salvador, a equação complica-se porque a cidade é palco de compromissos
políticos e demandas sociais desiguais, o que transforma cada medida de
contenção em munição para oposição e em testa de fogo para coalizões de
governo.
No tabuleiro estadual, as ações do governador Jerônimo
Rodrigues e do Partido dos Trabalhadores aparecem como caixa de ferramentas
possível e articulação por mais transferências, apoio técnico e linhas de
crédito orientadas a mitigar o colapso de serviços. Há sinais de diálogo aberto
entre Estado e prefeitura, com interlocução formal para buscar saídas conjuntas
sem inviabilizar políticas sociais. Técnicos do governo estadual entraram com
modelagens que sugerem ajustes fiscais menos traumáticos e reprogramação de
investimentos que priorizem saúde e educação.
Para além das negociações, a cidade precisa de mais
transparência imediata e relatórios de execução orçamentária atualizados,
calendário de pagamento claro e um plano público de prioridades que permita à
população medir sacrifícios e ganhos. Sem isso, a crise vira campo fértil para
boatos e tensões que reduzem a margem política para acordos necessários.
O desafio é prático, equilibrar contas sem desmontar a malha
de proteção social que Salvador ainda precisa. A solução exige técnica, diálogo
e, sobretudo, capacidade política para transformar ajuste em oportunidade,
reestruturar contratos, auditar despesas e renegociar passivos, e não numa
disputa de manchetes. A cidade aguarda, e o tempo político corre ao lado das
demandas reais.
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