Mas eu estava errado.
Assisti hoje à produção da CineFilm para o Disney+ e,
surpreendentemente, o trabalho me conquistou. O roteiro, assinado por Sérgio
Machado, Armando Praça, Letícia Simões e Sandra Delgado (com colaboração de
Juliana Antunes), aliado à direção de Machado, Thalita Rubio e Adrian Teijido,
consegue algo raro: hipnotizar o espectador do primeiro ao último minuto. A
escolha de não retratar a morte de Maria e Lampião foi magistral, focando em
suas vidas em vez do clichê sangrento.
Claro, há ressalvas. As roupas dos soldados lembram
uniformes nazistas de filmes hollywoodianos, e a casa de tijolos onde Maria
nasceu na série destoa da realidade — até hoje, sua residência original no
Povoado Malhada da Caiçara mantém paredes de barro. Mas esses deslizes são
secundários diante do conjunto, que captura o imaginário do cangaço com
respeito.
E Isis Valverde? Aquela "branca criada no Danone",
de sotaque carioca? Ela simplesmente surpreende. A atriz mergulhou no papel:
estudou trejeitos, domou cavalos como uma verdadeira sertaneja e imprimiu à
Maria Bonita uma emoção crua que me fez esquecer, em vários momentos, do
sotaque "chiado". O esforço para modular a fala nordestina é visível
— e, mais importante, funciona. Sua interpretação é a melhor de sua carreira,
até agora.
Reconheço: julguei precipitadamente. A série, apesar de
falhas pontuais, honra a história de Maria Bonita com sensibilidade. E Isis,
longe de ser uma escolha equivocada, entrega uma performance que merece
aplausos. Vida longa ao trabalho da equipe e, principalmente, à coragem de
revisitar nosso sertão com tanto cuidado.
Ah, e vida longa à Isis Valverde. O Nordeste agradece.
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