Nos anos 80 eu comecei a militar no movimento estudantil em minha cidade, Paulo Afonso na Bahia. Para se ter uma ideia de como as informações chagavam a nós, posso informar que era através do telefone. E só um de nós, o Zé Ivaldo, tinha um aparelho desses. Na verdade era o pai dele, Zé Ferreira, que tinha em sua loja de venda de moveis. Então, quando não conseguíamos ter acesso, o jeito era ir para a fila no posto telefônico que tinha três cabines e disponibilizava cinco minutos para cada pessoa ou grupo. Era assim que ficávamos sabendo o que acontecia no meio estudantil.
Certo dia, fomos convidados a um encontro estadual a ser realizado na capital, Salvador. E lá fomos nós de ônibus da Viazul que batia mais que coração de ladrão na hora do “teji preso”.
Durante o encontro na sede
de um Sindicato na Rua Carlos Gomes, que entrou pela madrugada, aconteceu
algumas votações para decidir o encaminhamento das propostas sugeridas e foi aí
que aconteceu um fato interessantíssimo. Um dos lideres do movimento e morador
da capital pediu a fala e fez a proposta de que cada voto de estudante de
Salvador valesse dois e do pessoal da interior, pasme, só valeria um.
Sabe quando um matuto se
sente humilhado? Pois fui eu naquele momento. Mal o cabra se calou e eu já
estava de pé pedindo a palavra. Lembrei a todos que ali estavam que o interior tinha
a maioria dos presentes e que não aceitaria uma proposta tão escrota quanto
aquela. O interior venceu e vencemos a quase todas as propostas apresentadas
naquela noite.
Esta forma de tratamento com
o interior da Bahia ainda acontece hoje, um pouco mais disfarçado, mas está
presente nos encontros realizados quando se juntam todos. O mais louco é que
gente que saiu do interior para morar na capital, e agora acham que se tornaram
soteropolitanos refletem este pensamento tacanho. E eu sempre que estou lá mostro
que a Bahia é mais que a Praça Castro Alves, que as Ladeiras do Pelô, a Bahia é
um todo e é composta dos 417 municípios com seu povo que pensa diferente um do
outro.
Pois bem, nós estamos a um
ano das eleições para governador no Estado. Segundo as duas últimas pesquisas a
direita está levando vantagem. O que me parece injustificável, já que Jaques
Wagner deixou o governo com aprovação da maioria dos eleitores e elegeu em 2014
seu sucessor, Rui Costa, que se reelegeu e está atualmente no governo. Mas não
é o que achamos que está no levantamento dos institutos de pesquisas. Nada para
se preocupar demasiadamente. A Bahia tem esse histórico nos levantamentos e o
resultado é sempre favorável à esquerda por aqui. Mas não é hora de ficar
deitado na rede.
Eu não sei quem é a equipe
que hoje está pensando a campanha de Wagner para o governo do ano que vem, mas
vou falar de um sentimento que está feito fogo de monturo entre a militância,
deputados estaduais e federais da base aliada. Tem muita gente insatisfeita com
a condução. As reclamações acontecem sempre que dois ou mais se reúnem e a conversa
é sobre eleições de 2022.
Algum, ou alguns iluminados
na capital, acharam que Wagner não deve dar entrevistas as rádios do interior,
ou a Blogueiros, jornalistas, ativistas digitais ou o escambau. A não ser os
escolhidos a dedo por estes ou aqueles veículos do Sul e Sudeste. Talvez eles
achem que, mesmo em tempo de velocidade na comunicação e não mais via telex, o
cabra do interior, que ouve a rádio local, comercial ou comunitária, se dê ao
trabalho de buscar “A” ou “B” para se informar vindo lá das bandas do “Sul
Maravilha”. A maioria da população no Brasil, e a Bahia, faz parte disto, ainda
vive os seus costumes interioranos, e “José” ou “Maria” é quem é ouvido e lido
em seus mundos, e é lá que Wagner tem que ir falar.
Quem está pensando a
campanha de Wagner precisa viver no mundo da comunicação instantânea que está
acontecendo em todos os recantos da Bahia e sair do mundo analógico em que
estão, sabendo que, a comunicação mudou, mas o povo vive mesmo é em seu mundo,
é na conversa nas praças, ouvindo a rádio local ou regional, lendo o jornal da
cidade, o Blog ou Site, debatendo o que disse o locutor no programa popular,
ouvindo o carro de som que passa anunciando até o velório do dia, nos grupos de
bate papo durante o dia todo. O fuxico que antes era de vizinha para vizinha,
agora é no whatssap, telegram, facebook, twitter...
Parafraseando Milton
Nascimento, todo politico tem de ir aonde o voto está.
Wagner, o interior precisa ser ouvido.
Arrogância Capital eu até que conhecia bem, da pior forma. Mas "fogo de monturo" não conhecia não, é bom demais, vou guardar.
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