Por estar desempregado e por absoluta falta do que fazer, resolvi dar uma caminhada matinal na Praia da Copacabana, para ver se conseguia filar um chope ou uma cerveja, de algum amigo desavisado, nos arredores. Quando caminhava, distraído, vi meia dúzia de gatos pingados, vestidos de branco de cima a baixo. Logo me animei, em festas de Iemanjá, Iansã e Ogum, sempre tem marafo1. O plano era simples, misturar-me ao povo de santo, acompanhar a procissão até o mar e filar uma boia e uma cachaça.
Afastei-me rápido daquela micareta, pensando que poderia ser uma alucinação coletiva causada por um quadro crônico de covid. Logo achei um amigo com mais reais na carteira do que eu, sentado num bar, que, em troca do meu papo furado, de malandro agulha carioca, estava resolvido a me pagar umas brejas e uns acepipes. Trocamos algumas ideias e perguntei o que era aquele show esquizofrênico.
Ele explicou-me que aquela micareta psicotrópica era a festa da terceira via, frente ampla contra o fascismo aliada aos fascistas, sem Bolsonaro, sem Lula e sem o povo. E ainda contou-me detalhes sórdidos daquela bacanal. Disse-me que em São Paulo, Isa Pena tinha subido abraçada ao palco com “Mamãe Falei”, Ciro de Paris tinha feito uma perfomance estilo Roberto Carlos/Wando, distribuindo flores aos transeuntes, mas ninguém havia jogado de volta uma calcinha vermelha no palco, e, mesmo com distribuição gratuita de chope, o jogo Taquarivaí x Catanduvense, da oitava divisão paulista, tinha reunido mais gente do que a massa cheirosa da Tacanhede.
Animado com o papo, bebi gratuitamente até quase entrar em coma alccólico e só pensei que aquela oferenda ali, Iemanjá, com certeza, rejeitaria.
1. cachaça.
Por: Fulgência Pedra Branca - escritor, Alcoólatra e hiponcondríaco – escreve para esta coluna de graça, por falta de coisa melhor para fazer na vida.
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