Tá na internet: impeachment? (Valerio Arcary)


Nos últimos cinco dias só se discute na esquerda a proposta de impeachment. O escárnio de Bolsonaro por aqueles que sacrificaram suas vidas na luta contra a ditadura fez a repulsa aumentar entre nós todos. Mas não há atalhos na luta política. Muitos milhões já estão enfurecidos? Sim. Mas. calma, não somos ainda a maioria. E mesmo entre os que compreendem o perigo que um neofascista na presidência representa, ainda não há uma disposição de luta suficientemente radicalizada para enfrentar o desafio de derrubá-lo.


Bolsonaro cometeu crime de responsabilidade? Sim. As palavras têm sentido. As palavras contam. Um presidente da República tem responsabilidades inerentes à função e cargo. Trata-se do decoro.  É legítimo apresentar um pedido de impeachment? Sim, em princípio, é legítimo. Mas não é a melhor tática, neste momento. Em outra situação pode vir a ser uma boa iniciativa. Não é a melhor tática, por várias razões. A principal é porque seremos derrotados. Quem procura um terreno de luta em que não pode vencer age irrefletidamente.

O pedido seria engavetado por Rodrigo Maia. Não há qualquer dúvida sobre isso. Ele tem a prerrogativa de encaminhar ou não um pedido de impeachment. Seria possível iniciar uma campanha de mobilização de massas para exigir a abertura de um processo de impeachment, e forçar a pressão sobre o Congresso Nacional? Infelizmente, não. Ainda não. E derrotados estaremos mais fragilizados, não fortalecidos. 

Cresceu o desprezo diante da irresponsabilidade, da idiotice, da maldade. Bolsonaro desdenhou das vítimas da chacina no Pará. Atacou a memória de Fernando Santa Cruz. Zombou dos ambientalistas que denunciam que a Amazônia está em chamas. Defendeu o direito de propriedade de fazendeiros que utilizam trabalho em condições de escravidão. Defendeu o fim da Ancine, atacou o INPE, e por aí vai.

Estamos acumulando forças na resistência. Mas não devemos dar um passo maior que nossas pernas. Nossa estratégia não pode ser aguardar as eleições de 2022, evidentemente. A dimensão da destruição econômico-social nesse horizonte é desumana, monstruosa demais. Nossa estratégia deve ser criar as condições para derrubá-lo. O nome desta esta estratégia é revolução política. Nesse marco,  o recurso legal do impeachment pode vir a ser um instrumento tático. Imperfeito, mas útil. 

O impeachment pode ser um bom instrumento dependendo de quais forem os sujeitos sociais da mobilização, de quais forem os sujeitos políticos que a dirigem, e de qual seria a saída política, ou seja, quem assumiria o poder. A posse do vice Mourão é somente uma delas. Basta manter a mente aberta, e alguma imaginação. Dependerá da força e radicalização social da mobilização. Quem disse que milhões nas ruas enfurecidos contra Bolsonaro aceitariam transferir a decisão para este Congresso Nacional? É bom lembrar, portanto, que, além do impeachment, há outros caminhos. Mas, sem desespero, ainda não.

Um comentário:

  1. Lógico que tem que fazer algo grande. Um movimento que impeça sua saga de justiceiro da mais torpe de um sociopata infeliz, que acha que tem condições de levar a frente seu projeto.
    Ele ganhou porque mais da metade da população brasileira se omitiu..
    Isto porque a maioria não acreditava que um louco tivesse forças suficiente.
    Mas não analisaram que era algo maior que o Brasil e a América latina. Se tratava de um plano muito bem elaborado da direita, para um país que despontava como líder para vencer e derrotar o capitalismo internacional. E a esquerda estava muito confiante e a direita totalmente desiludida ao ponto de achar que um facista, um sociopata pudesse ser a resposta para seu deserpero.

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